Sistema Socioeducativo do DF: Capoeira, música e dança marcaram o início desta semana na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM), palco da primeira edição da mostra cultural “A Arte Salva”. O projeto foi idealizado pelo pai de um socioeducando, em articulação com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), órgão responsável pela coordenação do Sistema Socioeducativo no DF. O evento nasceu da vontade do profissional da dança de contribuir com o processo de ressocialização não apenas do próprio filho, mas dos demais jovens em cumprimento de medida socioeducativa.
“Depois de vir aqui algumas vezes, decidi trazer um pouquinho do que faço no meu dia a dia para agregar na vida desses adolescentes”, contou o dançarino, que não será identificado para preservar a imagem do filho. “A arte pode transformar, educar e reeducar esses adolescentes. Espero que a gente tenha tocado o coração deles de alguma forma e que eles queiram tomar outro caminho através da música, da dança ou das cênicas”, completou.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o acesso à cultura é um direito dos socieducandos e faz parte do processo de ressocialização, assim como a escolarização e os cursos profissionalizantes. “No DF, buscamos mais do que somente garantir a implementação da lei. A nossa gestão trabalha o socioeducando e suas famílias com um olhar humanizado e pedagógico, que busca gerar oportunidades para a transformação da vida dos jovens atendidos no sistema”, afirma a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani.
A primeira edição da mostra cultural reuniu mais de 10 artistas voluntários e contou com a colaboração dos servidores da UISM. A atividade ocorreu em um espaço destinado a apresentações culturais, com direito a palco e arquibancada. Foi nesse local que os artistas tiveram a oportunidade de se apresentar, pela primeira vez, a uma plateia formada por adolescentes em processo de ressocialização. “Participar desse projeto foi uma experiência de amor e doção. Acredito que a música traz alegria, cura, regenera e encaminha as pessoas para um bom caminho”, destaca o cantor Marcelo Sena.
Para a maioria dos jovens, também foi uma atividade inédita. “Acho importante ter essas apresentações para a gente aprender a dançar, gingar capoeira e descobrir que essas coisas existem. Eu nunca tinha visto alguém dançar bolero, por exemplo, e gostei muito”, revela um dos socioeducandos, animado com as apresentações. Segundo o adolescente, neste momento de alegria e descontração, ele se sente até mais à vontade para revelar os planos para o futuro: “Quando sair daqui, quero terminar meus estudos, cuidar da minha família, começar a trabalhar e seguir um novo caminho. Quero uma vida nova”, acrescenta
Ao todo, 20 adolescentes tiveram a oportunidade de participar do evento. O elenco de artistas incluiu também a banda de choro Geral do Regional, o vocalista do grupo Cangaceiros do Cerrado, Helder Nascimento, o grupo de capoeira UCDF e profissionais de dança de salão (bolero, zouk, samba, ballet e forró).
Outras atividades na UISM
A Unidade de Internação de Santa Maria conta hoje com 42 socioeducandos. Durante o período letivo, os adolescentes estudam em um turno e no contraturno realizam atividades profissionalizantes, como Curso Pizzaiolo, Salgadeiro, Gestão em Recursos Humanos e Robótica e/ou atividades de Aprendizagem Profissional em Assistente Administrativo, que garante uma bolsa salarial aos aprendizes.
No ano passado, a unidade contou com a participação de 100% dos socieducandos em algum curso profissionalizante. Nesta semana, foi iniciado o Curso de Pizzaiolo (12 socioeducandos estão participando em cada turno, totalizando 24) e está previsto começar o curso de Robótica no final do mês (16 socieducandos demonstraram interesse em participar). Os cursos são realizados em parceria com o SENAI, SENAC e o Instituto Campus Party. Na UISM também são desenvolvidas atividades ocupacionais de horticultura.
Sistema Socioeducativo do DF
A Subsecretaria do Sistema Socioeducativo possui 30 unidades socioeducativas no Distrito Federal, sendo 15 de meio aberto, 6 de semiliberdade e 9 de internação (estrita, provisória e atendimento inicial).
Conforme estabelecido no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), cabe às unidades socioeducativas ofertar aos adolescentes e jovens atividades de cultura, esporte e lazer, bem como acesso à escolarização, profissionalização, saúde e outras. Para isso, as unidades socioeducativas de internação realizam ações de incentivo e promoção à cultura por meio de parceria com diversas instituições da sociedade civil e públicas.
Em 2021, levantamento realizado pela Coordenação de Internação da SUBSIS com adolescentes e jovens que cumpriram a medida socioeducativa de internação constatou que somente 10% possuíam uma situação judicial de nova medida socioeducativa ou inserção no sistema prisional. Ou seja, foi possível observar uma eficácia da medida para aproximadamente 90% dos casos.
Fonte: Jornal de Brasília