Javier Milei assumiu a presidência da Argentina no último domingo (10), em um momento de inflação alarmante, que ele estima estar em 15.000%. No discurso de posse no Congresso, Milei se concentrou nas questões econômicas, apresentando propostas para enfrentar a crise e fazendo duras críticas ao peronismo.
“Encerramos uma longa e triste história de decadência e iniciamos o processo de reconstrução de nosso país. Os argentinos manifestaram de forma vigorosa uma vontade de mudança que não pode ser revertida. Não há retorno possível”, afirmou o recém-empossado presidente. Milei ainda fez um alerta: disse que antes de melhorar, a vida dos argentinos vai piorar “consideravelmente” nos próximos meses.
Medidas rigorosas
O governo de Javier Milei, com suas inclinações ultraliberais, anunciou um conjunto rigoroso de medidas econômicas para enfrentar a crise e a inflação no país. Entre as principais, estão a desvalorização acentuada do peso, a suspensão de todas as obras públicas, a redução dos subsídios para energia e transporte, a diminuição dos repasses para as províncias, a liberalização das importações e um aumento temporário de impostos.
O dólar oficial, que atualmente é cotado a 366 pesos no país vizinho, subirá quase 120%, alcançando 800 pesos. Isso inevitavelmente afetará o chamado dólar “blue” e os preços nas ruas.
Para mitigar os impactos dessas mudanças, programas sociais para os mais necessitados serão ampliados. Os pagamentos mensais por filho aumentarão 100%, e os cartões de alimentação terão um acréscimo de 50%. Essas medidas foram anunciadas pelo novo ministro da Economia, Luis Caputo, que já ocupou o cargo de ministro das Finanças durante o mandato do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).
O Fundo Monetário Internacional (FMI) chamou as medidas de “ousadas”, mas acredita que irão ajudar a estabilizar a economia e criar bases para um crescimento mais sustentável, liderado pelo setor privado.
É importante destacar que essas medidas eram aguardadas com grande expectativa pelo mercado e pela população, que estavam apreensivos quanto ao destino do dólar após a posse de Milei. Isso levou muitos argentinos a acelerar a compra de produtos duráveis nas últimas semanas, em um comportamento comum durante períodos de incerteza no país.
Os preços em geral já subiram 143% nos últimos 12 meses até outubro, e espera-se um aumento ainda mais expressivo em novembro e dezembro, devido à volatilidade dos valores de mercadorias e serviços nas ruas. Os acordos para conter preços, feitos anteriormente pelo ex-ministro Sergio Massa com empresários, já não têm efeito prático.
O Banco Central, agora liderado pelo economista Santiago Bausili, convocou uma reunião com bancos para discutir as medidas antes da abertura dos mercados.
A Argentina enfrenta sua terceira grande crise econômica em 40 anos de democracia, causada por um déficit fiscal persistente, uma dívida pública que representa 88% do PIB e a falta de dólares nos cofres públicos. Milei, que durante a campanha prometeu mudanças radicais, como a dolarização e o fechamento do Banco Central, nomeou um ministro da Economia que é contrário a essas medidas, mostrando uma mudança de tom em relação a suas promessas iniciais.