Agentes da Polícia Federal foram às ruas nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira (29) para cumprir nove mandados de busca e apreensão em Angra dos Reis/RJ (1 mandado), Rio de Janeiro/RJ (5 mandados), Brasília/DF (1 mandado), Formosa/GO (1 mandado) e Salvador/BA (1 mandado).
Nesta nova etapa da Operação Vigilância Aproximada, a PF tem como objetivo avançar nas investigações sobre o núcleo político do suposto esquema, para identificar os principais destinatários e beneficiários das informações que teriam sido produzidas de forma ilegal pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, é um dos principais alvos da operação. A Câmara Municipal do Rio de Janeiro informou que policiais federais estiveram no gabinete do parlamentar, onde foi cumprido um dos mandados judiciais de busca e apreensão. “A diligência ocorreu das 7h às 9h, e foi acompanhada pela equipe de segurança da Casa e um assessor do parlamentar”, informou nota da assessoria da Câmara Municipal.
Segundo informações da Polícia Federal, Carlos Bolsonaro seria “a principal pessoa da família que recebia informações da Abin paralela”. As investigações indicam ainda que teria partido dele a ideia de usar a estrutura da Abin no monitoramento ilegal autoridades públicas e outras pessoas.
Entenda a investigação
A Operação Vigilância Aproximada foi deflagrada na última quinta-feira (25), como um desdobramento da Operação Última Milha, que começou em outubro de 2023. A Polícia Federal investiga o uso do software espião israelense FirstMile pela Abin em um suposto esquema de espionagem ilegal durante a gestão do governo de Jair Bolsonaro (PL) – daí o nome “Abin Paralela”.
O software permite o monitoramento de até 10 mil proprietários de celulares por ano, bastando digitar o número do contato telefônico. A investigação da PF aponta que a tecnologia, comprada ainda no governo anterior ao de Bolsonaro (Temer), usava o GPS para monitorar a localização de celulares de servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e até juízes – tudo de forma irregular.
A operação investiga se o uso do software de geolocalização gerou relatórios sobre ministros do Supremo Tribunal Federal e de adversários políticos do ex-presidente. O atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) era o diretor da Abin na época em que a agência teria usado ilegalmente a tecnologia de espionagem. Ramagem também é delegado da Polícia Federal desde 2005, e é conhecido por ser próximo da família Bolsonaro, tendo atuado como segurança do ex-presidente durante a campanha eleitoral de 2018, e recebeu apoio do vereador Carlos Bolsonaro para assumir a Abin, em junho de 2019.
Alvos da PF
A Polícia Federal investiga se a chamada ‘Abin Paralela’ teria tentado encontrar alguma relação entre os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes com a facção criminosa PCC. Outro caso que chamou a atenção dos agentes foi o fato de um funcionário da Abin ter sido supostamente flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do atual ministro da Educação do governo Lula, Camilo Santana (PT), que na época era governador do estado do Ceará.
Na operação, a PF ainda encontrou indícios de que a Abin teria atuado para monitorar e fornecer informações sobre investigações em andamento a Flávio Bolsonaro, Jair Renan e Carlos Bolsonaro, filhos do ex-presidente.
Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão contra Carlos Bolsonaro nesta segunda-feira, os agentes apreenderam computadores e documentos no gabinete do parlamentar, no Rio de Janeiro, e também um celular e outro computador na casa de praia da família, em Angra dos Reis (RJ), onde o ex-presidente estava com os filhos.
Já na casa do militar Giancarlo Gomes Rodrigues, ex-assessor de Alexandre Ramagem, foi encontrado e apreendido um computador que pertence à Abin. Segundo as investigações, Giancarlo, por determinação de Ramagem, teria feito monitoramentos ilegais de advogados de adversários políticos de Bolsonaro.
O outro lado
Em live nesse domingo (28), ao lado dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, Jair Bolsonaro aproveitou para repercutir o início da Operação Vigilância Aproximada, e negou que tenha criado uma “Abin paralela” para espionar adversários.
Fabio Wajngarten, advogado e porta-voz de Jair Bolsonaro, informou que o ex-presidente “desconhece” que seus filhos tenham pedido informações sobre investigações por meio de monitoramentos ilegais.
Pelas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, classificou a operação desta segunda-feira como “ato ilegal”. “Esse estado de coisas não pode permanecer, não pode uma ordem judicial ter uma ampliação dessa forma. Isso é ato ilegal, além de imoral”, declarou.
O vereador Carlos Bolsonaro deve prestar depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira (30).
Os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.