Um homem, identificado como Igor Fernandes Pereira Ayres, de 22 anos, foi preso em flagrante na tarde dessa segunda-feira (5) no apartamento onde morava em Taguatinga Sul com a namorada e a enteada – uma criança de apenas 4 anos de idade.
Igor teria acionado o Samu sob a justificativa de que a menina estaria convulsionando e não reagia a estímulos. Segundo depoimento, a mãe da criança saiu para trabalhar por volta de 6h30 e deixou a filha sob os cuidados do companheiro, com quem se relacionava há nove meses. Ainda pela manhã, ela teria recebido uma ligação de Igor, aos prantos, avisando que a garotinha havia convulsionado e estava desacordada.
Durante o atendimento, um dos médicos da equipe do Samu identificou que a menina apresentava sinais de abuso e violência sexual nas partes íntimas, e chamou a Polícia Militar. A criança estava, na verdade, em parada cardíaca. Apesar dos esforços na reanimação, ela não sobreviveu.
Após o atendimento, Igor foi preso em flagrante, passou por audiência de custódia e seguirá na cadeia. Na decisão, a magistrada que analisou o caso ressaltou a periculosidade do suspeito: “Violência sexual é um crime que demonstra periculosidade, repugnância e traz intranquilidade social. Está patente, portanto, o risco à ordem pública. Não há possibilidade de cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão”.
Em depoimento à Polícia Civil, Igor negou que tenha violentado a enteada. Ele disse que ouviu um barulho no quarto onde a criança dormia, e que correu para ver o que estava acontecendo, quando a teria encontrado se debatendo e convulsionando. Os vizinhos da família, no entanto, relataram que ouviram por diversas vezes a menina gritar e chorar quando estava sozinha com o padrasto.
Igor não tinha passagens pela polícia, não trabalhava e recebia pensão alimentícia do pai para fazer faculdade.
Denúncias aumentam
A Safernet Brasil, uma ONG focada na defesa dos direitos humanos na internet, reportou um aumento significativo nas denúncias de abuso e exploração sexual infantil online em 2023, atingindo o alarmante total de 71.867 casos. Esse número, o mais alto em 18 anos de registros da organização, marca um aumento de 77,13% em relação a 2022, quando houve 40.572 casos.
Segundo Thiago Tavares, presidente da Safernet, a escalada pode ser atribuída a cortes de pessoal nas equipes de segurança das grandes empresas de tecnologia, à crescente circulação de conteúdo sexual produzido pelos próprios adolescentes, e à aplicação de Inteligência Artificial na criação desses materiais.
Os dados foram revelados no Dia da Internet Segura, ressaltando a necessidade crítica de proteger crianças e adolescentes no ambiente digital, e de intensificar os esforços contra a violência sexual online. A Safernet também destaca a importância da nomenclatura apropriada para esses crimes, recomendando a substituição do termo “pornografia infantil” por “imagens de abuso e exploração sexual infantil”, para enfatizar a natureza não consensual e criminosa dos atos retratados.
Além dos registros de abuso sexual, a Safernet observou um pico histórico em todas as formas de violações de direitos humanos na internet, com um total de 101.313 denúncias em 2023. A organização mantém uma Central Nacional de Denúncias onde o público pode reportar anonimamente conteúdos de abuso e exploração sexual de menores. Em casos de suspeita de violência sexual contra crianças ou adolescentes, é recomendável também utilizar o Disque 100 para reportar os crimes.