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Colapso histórico no Rio Grande do Sul: chuvas rompem barragem e estado registra 29 mortes

02 de maio, 2024
4 minuto(s) de leitura
Enchentes no RS
Foto: Reprodução/ Agência Brasil

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul desde o início desta semana culminaram no rompimento parcial da barragem 14 de Julho, localizada entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, às margens do rio das Antas.

O incidente ocorreu no início da tarde desta quinta-feira (2), e segundo avaliações preliminares do governo estadual, o alto nível do rio pode ajudar a evitar uma enxurrada devastadora.

O governador Eduardo Leite (PSDB) divulgou a notícia do rompimento durante uma coletiva de imprensa, pouco após uma reunião com o presidente Lula em Santa Maria (RS).

“Recebi a notícia do rompimento de parte da barragem 14 de Julho em Cotiporã. Como a jusante e a montante já estavam quase no mesmo nível, com uma diferença de alguns poucos metros, a informação dos especialistas dão conta de que o efeito será sentido mais no primeiro trecho”, afirmou o governador. Ele continuou, explicando que “os efeitos, em princípio, não serão como uma enxurrada, porque o nível do rio já estava muito elevado.”

Ainda na tarde desta quinta, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu um comunicado urgente indicando que a barragem estava “em processo de colapso”. O comunicado também aconselhava moradores de sete municípios — Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Encantado, Colinas e Lajeado — a buscar abrigos públicos ou outras áreas seguras.

“As pessoas que não tiverem locais alternativos devem buscar informações junto à Defesa Civil da sua cidade sobre os abrigos públicos disponibilizados pelas prefeituras, rotas de fuga e pontos de segurança”, alertava o documento.

O estado manteve sob monitoramento constante outras cinco barragens de energia elétrica, dada a continuidade das chuvas e o risco de novos incidentes. Por volta das 16h50, a Defesa Civil lançou um novo alerta sobre o risco iminente de rompimento da represa de São Miguel, localizada em Bento Gonçalves. Equipes de emergência, incluindo a Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, foram mobilizadas para a evacuação das áreas potencialmente afetadas.

Adicionalmente, o estado acompanha de perto a situação de outras 12 barragens de múltiplos usos, das quais cinco já estão em processo de evacuação devido ao estado crítico das estruturas. As previsões meteorológicas indicam que as chuvas devem continuar até pelo menos sábado, com acumulados que podem alcançar até 200 milímetros em algumas regiões, exacerbando ainda mais a situação de emergência.

As consequências das chuvas já são severas, com um balanço de 29 mortes confirmadas e 60 pessoas desaparecidas. Ao todo, 213 municípios foram afetados, resultando em inundações e alagamentos significativos, e deixando pelo menos 10.242 pessoas desalojadas e 4.645 abrigadas. “Estamos em uma situação absurdamente excepcional”, disse o governador.

Serviços ameaçados

Mais de 328 mil pontos estão sem energia elétrica no estado, e 541,5 mil consumidores enfrentam o desabastecimento água. Além disso, há quase 500 escolas afetadas pelos temporais, seja servindo de abrigo, seja com problemas de acesso ou completamente alagadas e danificadas.

Segundo o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), há 139 trechos em 60 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.  

A previsão é que chuvas continuem no estado pelo menos até sábado (4), com previsão de 200 milímetros. Devido às enchentes, a orientação é que os moradores das localidades atingidas se afastem das áreas e também de regiões onde ocorreram alagamentos recentemente. Isso porque, segundo o governador, os rios atingidos vão continuar subindo durante o fim de semana, e a água deve demorar a baixar. 

Lula vai ao RS

O presidente Lula viajou com uma comitiva de seis ministros para acompanhar de perto a situação no estado. Ainda na Base Aérea de Santa Maria, eles se reuniram com o governador Eduardo Leite na manhã desta quinta-feira.

No encontro, como medida emergencial, ficou decidida a criação de uma Sala de Situação integrada, sob coordenação do comandante militar do Sul, general Hertz Pires do Nascimento, para organizar as operações de resgate em todas as regiões atingidas.

“Precisamos de todos os recursos técnicos e humanos para salvar vidas neste momento. Estamos testemunhando um desastre histórico, infelizmente. Os prejuízos materiais são gigantescos, mas nosso foco neste momento são os resgates. Ainda há pessoas aguardando o socorro”, disse o governador, que destacou as dificuldades meteorológicas ainda existentes, que retardam as operações.

Durante a visita do presidente Lula à região, ele reiterou o compromisso do governo federal de apoiar o estado no enfrentamento da crise. Embora os detalhes financeiros específicos ainda não tenham sido divulgados, o apoio vai incluir recursos para amenizar os danos e auxiliar na recuperação das áreas afetadas. O estado já havia decretado calamidade pública, e as equipes de resposta continuam em alerta máximo para responder à situação, que evolui rapidamente.

Prejuízos para o agronegócio

O estado, que tem a economia movimentada pela agropecuária, viu o setor sofrer os impactos devido aos temporais e enchentes. Segundo Rogério Kerber, presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal, a situação atual é sem precedentes, com prejuízos significativos na colheita de grãos e paralisação nas atividades pecuárias. As chuvas contínuas têm causado alagamentos que interrompem a coleta de leite, o abate de animais e o transporte de ração.

Ricardo Santin, da Associação Brasileira de Proteína Animal, alerta para perdas crescentes, especialmente onde já não é possível escoar produtos como ovos. Além disso, especialistas e produtores estimam uma redução significativa na safra de arroz, devido à dificuldade de colheita e perda de qualidade do cereal.

A situação é crítica para a mobilidade, com mais de cem pontes destruídas, impedindo o transporte de animais e produtos agrícolas para as cidades. O cenário também afeta a produção de frango e suínos, com o estado sendo um dos principais produtores e exportadores do Brasil. A crise atual ameaça não só a economia local, mas também a disponibilidade de alimentos nos centros urbanos.

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