Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) encontrou níveis elevados de álcool em diversas marcas de pão de forma no Brasil, com três delas apresentando teores suficientemente altos para que o consumidor seja reprovado em um teste de bafômetro após consumir apenas duas fatias.
A análise abrangeu 10 marcas líderes de mercado, das quais seis apresentaram teores de álcool que as classificariam como alcoólicas se houvesse uma legislação específica similar à das bebidas alcoólicas, que estabelece um limite de 0,5% de teor para ser considerada não alcoólica. As marcas identificadas foram: Visconti, Bauducco, Wickbold 5 Zeros, Wickbold Sem Glúten, Wickbold Leve e Panco.
Além disso, Seven Boys e Wickbold apresentaram taxas de 0,5% e 0,35%, respectivamente, que embora não sejam suficientes para serem consideradas alcoólicas segundo a legislação de bebidas, seriam classificadas dessa forma sob as regras aplicáveis a produtos fitoterápicos. As únicas marcas que não apresentaram níveis elevados de álcool foram Pullman e Plusvita.
Risco para motoristas
Três marcas – Bauducco, Visconti e Wickbold 5 Zeros – foram destacadas por apresentarem níveis de álcool que poderiam levar motoristas a falharem no teste do bafômetro. De acordo com a Proteste, duas fatias desses pães contêm concentrações superiores a 0,44g de álcool, quantidade suficiente para infringir as leis de trânsito, segundo estimativas baseadas nas regras do Detran.
Henrique Lian, diretor executivo da Proteste, ressaltou a importância de informar os consumidores sobre esses teores de álcool. “Esses produtos com elevado teor alcoólico seriam evitados por numerosos consumidores – seja por motivos de saúde, orientação religiosa e outros – se fosse de seu conhecimento o que constatamos com rigorosos testes realizados em laboratório”, afirmou Lian. A campanha “Se tem Álcool, todo mundo tem direito de saber” foi lançada para promover a transparência.
Processo de fabricação
A presença de álcool no pão é resultado do processo de fermentação, onde os açúcares da massa são transformados em álcool etílico e gases. Embora a maior parte do álcool evapore durante a cozedura, algumas indústrias adicionam conservantes dissolvidos em álcool para prevenir o mofo e garantir a integridade do produto. Quando essa prática é excessiva, pode resultar em teores elevados de etanol no pão final, conforme explica a Proteste.
Após os testes, a Proteste encaminhou os resultados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sugerindo a definição de um limite máximo de álcool nos pães e a realização de ações de fiscalização.
Resposta das empresas
A Pandurata Alimentos, responsável pelos produtos Bauducco e Visconti, afirmou que “adota rigorosos padrões de segurança alimentar” e que “segue todas as legislações e regulamentações vigentes”. A Panco declarou que suas práticas estão alinhadas aos mais altos padrões de mercado e que cumpre todas as normas específicas. Sobre o estudo da Proteste, a Panco alegou desconhecer a metodologia utilizada.
O Grupo Wickbold, que também detém a marca Seven Boys, reiterou que segue “protocolos de segurança e qualidade” e cumpre toda a legislação vigente. Assim como a Panco, a Wickbold informou não ter sido notificada sobre o estudo e, portanto, não pode se manifestar sobre a metodologia aplicada.
Com essas revelações, a Proteste reforça a necessidade de maior transparência e regulamentação no setor para garantir a segurança dos consumidores.