A hidrossalpinge, uma condição muitas vezes desconhecida entre as mulheres, pode representar um obstáculo significativo à fertilidade feminina. A doença, que afeta as trompas de Falópio – também conhecidas como tubas uterinas –, geralmente não apresenta sintomas, sendo descoberta durante exames de rotina ou investigações sobre infertilidade. A hidrossalpinge ocorre quando a tuba uterina se dilata e se enche de líquido, bloqueando a passagem natural dos óvulos e dificultando a concepção.
De acordo com o ginecologista Bruno Ramalho, especialista em Reprodução Assistida e professor adjunto do curso de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), a condição pode ser causada por diversos fatores, como cirurgias pélvicas anteriores, infecções, endometriose e outras inflamações no sistema reprodutivo. Ramalho destaca que, embora a hidrossalpinge seja muitas vezes silenciosa, sintomas como dor pélvica e corrimento vaginal podem ocorrer, especialmente nos casos em que a endometriose está presente.
O diagnóstico da hidrossalpinge é feito por meio de exames especializados, como a histerossalpingografia, ressonância magnética da pelve ou ultrassonografia transvaginal. Esses exames ajudam a identificar o acúmulo de líquido na tuba uterina, uma condição que pode comprometer sua função e levar à infertilidade. “Uma tuba comprometida já pode ser suficiente para provocar infertilidade, independentemente de sua dilatação”, afirma Ramalho.
Além de dificultar a gravidez, a hidrossalpinge aumenta o risco de uma gravidez ectópica, quando o embrião se implanta na própria tuba. Nos casos mais graves, em que a tuba já não tem mais função, o tratamento indicado é a retirada cirúrgica da trompa afetada. Ramalho explica que, em algumas situações, pode-se tentar uma salpingostomia, que consiste na abertura da tuba para restaurar sua função. No entanto, essa abordagem apresenta resultados limitados, com um alto risco de recorrência.
Quando a hidrossalpinge afeta apenas uma das trompas, a outra pode permanecer funcional, permitindo uma gestação espontânea. Contudo, se ambas as trompas estiverem comprometidas, as técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV), são frequentemente recomendadas, pois não dependem da função das trompas. “Em situações de hidrossalpinge visível por ultrassonografia, geralmente se recomenda a remoção cirúrgica das trompas antes da transferência de embriões para o útero”, conclui Ramalho.
A hidrossalpinge, embora silenciosa, pode ter impactos profundos na fertilidade feminina. Por isso, é importante que as mulheres mantenham suas consultas de rotina e realizem os exames necessários para detectar possíveis problemas, especialmente quando houver histórico de infecções ou endometriose.