Decidido a ser candidato à reeleição, o governador Ibaneis Rocha (MDB) também terá um papel importante no cenário nacional de 2022. Será um cabo eleitoral disputado no DF, onde se respira política. E um dos representantes do MDB, o partido com mais filiados no país.
A esta altura do campeonato, todos já sabem do bom relacionamento entre o governador do DF e o presidente da República. Ibaneis é um apoiador convicto de Jair Bolsonaro (sem partido). “O presidente, de vez em quando, briga comigo, mas eu não tenho motivo nenhum para brigar com ele”, disse Ibaneis em entevista à coluna Grande Angular.
O que pode soar como uma novidade é a opinião que o governador do DF tem sobre uma eventual candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para a Presidência da República. Ibaneis acredita que, no contexto de um país divido ao meio entre o apoio a Lula de um lado e a Bolsonaro de outro, o presidente do Senado seria “seria um excelente nome” para representar alternativa à polaridade que se apresenta.
“Na minha visão, Rodrigo Pacheco tem um perfil que o brasileiro está precisando: alguém que não trabalhe tanto na onda do radicalismo”, afirmou Ibaneis.
Ibaneis e Rodrigo Pacheco são amigos de longa data. Eles se aproximaram quando ambos atuavam na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): Ibaneis foi presidente da OAB-DF e, Pacheco, conselheiro federal pela Seccional de Minas Gerais.
Em um diagnóstico do cenário nacional, Ibaneis comentou o papel que Michel Temer (MDB), José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes (PDT) devem ter na disputa eleitoral.
Em âmbito local, o governador reafirmou que será candidato à reeleição, falou sobre o apoio político de oito partidos e disse que a escolha do vice de sua chapa ainda está aberta.
Veja entrevista com Ibaneis
Está definido que o senhor será candidato à reeleição?
Sou candidato à reeleição. Acho que a resposta da população tem sido positiva. Nos últimos dois meses, tenho ido às ruas fazer as entregas e sinto o calor e a proximidade da população. Tenho convicção e apoio político de diversos partidos. A aceitação de meu nome é muito boa, e a resposta da cidade a tudo o que estamos fazendo também. Nós temos obras por toda a cidade e, mesmo em época de pandemia, não deixamos nada parar aqui no Distrito Federal. Então, a gente sente que tem espaço para a reeleição.
O senhor definiu quem será seu candidato a vice-governador?
Essa discussão vai ser finalizada em meados de março e abril. O que temos, hoje, são vários partidos nos apoiando, alguns já com pretensões de candidatura majoritária, como é o caso da ministra Flávia Arruda (PL), que quer ser candidata ao Senado. Estou muito satisfeito com o vice que tenho hoje, mas acho que isso vai ser discutido dentro da composição partidária. Nós temos na base MDB, PP, Avante, Republicanos, PL, PSD, PSL e PSC.
O senhor já pensou no senador Reguffe (Podemos) como vice?
Estou até para marcar uma conversa com ele. Gosto muito do Reguffe. Ele é uma pessoa que tem feito bem para a política do Distrito Federal, mas não afunilamos no sentido de fazer qualquer tipo de composição.
O nome do senhor circulou, em algumas rodas de política nacional, como possível candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. Tem algum cabimento?
Nunca conversei com ninguém sobre esse assunto, também nunca fui procurado pelo presidente ou por assessores que circulam com ele. Essas questões nacionais ainda estão, na minha visão, muito conturbadas. Existe uma polarização – e falo, mais uma vez, baseado em pesquisas – entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última pesquisa que saiu, um tem 33% e o outro tem 31% dos votos. Mas os dois têm uma rejeição muito alta, o que demonstra que pode aparecer uma terceira via. Ainda tem muita coisa para ser resolvida em âmbito nacional.
O senhor acredita que o ex-presidente Michel Temer (MDB) possa concorrer?
Acho que o presidente Michel não seria candidato. Ele cumpriu o papel político dele com muita honradez e hombridade. Foi presidente da Câmara várias vezes, vice-presidente e presidente da República. Recolocou o Brasil nos trilhos no período em que assumiu a Presidência, fez a reforma trabalhista – o que era quase impossível de se fazer –, não aprovou a Reforma da Previdência, mas deixou tudo preparado.
Não acredito que ele seja candidato. Mas não podemos deixar de levar em consideração que pessoas como o presidente Temer, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso estão trabalhando para que saia a terceira via. Até março do ano que vem, acredito que ainda tem muita coisa para acontecer.
De um grupo alternativo, qual nome teria potencial para concorrer à Presidência da República?
Hoje, um dos principais nomes que temos aí é o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. É um excelente nome. Ele vem de um Estado com história política forte e tem se posicionado como uma pessoa muito centrada, com posições firmes em relação aos temas que estão sendo colocados.
Na minha visão, ele tem o perfil que o brasileiro está precisando: alguém que não trabalhe tanto na onda do radicalismo. Esse, para mim, seria um dos nomes. Outros podem aparecer também.
Em algum momento, ele conversou com o senhor sobre desejo de ser presidente do país?
Não. Eu brinco com ele sempre. Tenho amizade longa com o Rodrigo Pacheco. Quando fui presidente da OAB, ele era conselheiro federal pela OAB de Minas e nós ficávamos ali conversando, ele sempre estava nos jantares na minha casa. Eu gosto muito dele, do perfil, principalmente por ser homem que tem postura muito centrada.
O senhor descartaria Ciro Gomes (PDT)?
Na minha visão, o Ciro não reúne as condições para o momento político. Mas ele pontuou com 10% na última pesquisa, então é um nome viável.
Quem o senhor vai apoiar nas eleições da OAB-DF?
Tem um grupo ao qual eu pertenço que está discutindo os nomes, como o da Thais Riedel, do Everardo Gueiros e o do Cleber Lopes. Mas eles estão convergindo agora para um nome único, e eu espero essa definição deles, no mais tardar, até o fim deste mês. Mas o meu apoio, hoje, até importa pouco, pois estou afastado da advocacia.
De vez em quando, passo no meu escritório, mas não estou tendo tempo de me reunir como fazia antigamente, quando todas as sextas-feiras me encontrava com advogados e conselheiros. E tenho a posição de que não compete a mim interferir na eleição da Ordem. Acho que tem de ser eleição mais pacífica possível, até porque estamos em ambiente de crise nacional, e a OAB tem de se entender um pouco melhor.
Como o DF deve chegar ao fim de 2021, do ponto de vista econômico?
As nossas contas estão muito bem arrumadas. A gente tem expectativa de retorno do crescimento muito forte aqui no Distrito Federal, até porque não deixamos as nossas empresas desamparadas. Nós fizemos pacotes econômicos e tributários, prorrogação de impostos, e o BRB aportou em torno de R$ 9 bilhões na economia do DF. Com a vacinação, a gente espera que haja aquecimento da economia. Temos um pacote de obras que está sendo feito na cidade e será ampliado agora. Temos condições e convênios que estão sendo feitos, via Caixa Econômica e Ministério do Desenvolvimento Regional.
O bom relacionamento que o senhor mantém com Bolsonaro é uma estratégia política de sobrevivência, ajuda na liberação de verbas pelo governo federal?
Acho que ajuda, porque, certamente, ele não deve ter a mesma simpatia com os que fazem oposição, como é o caso do João Doria. No meu caso, não faço nenhum tipo de oposição, trato muito bem o presidente da República e todos os seus ministros. Acho que um bom relacionamento de qualquer governador do Distrito Federal com o Palácio do Planalto é importante. O presidente, de vez em quando, briga comigo, mas eu não tenho motivo nenhum para brigar com ele. Tenho a convicção de que, no Distrito Federal, sem o apoio das verbas federais, muita coisa não andaria. Fui eleito para cuidar do meu povo, então, estou cuidando.