A disparada do preço da gasolina no Distrito Federal, onde se encontra o combustível sendo vendido a R% 6,39 o litro, afetou em cheio a categoria dos motoristas de transporte por aplicativo. Reclamando de baixo percentual que as plataformas repassam do valor das corridas, a estratégia tem sido trabalhar só em horários de pico. Em muitos casos, os condutores têm preferido abandonar o trabalho.
Segundo estimativa do Sindicato Dos Motoristas Autônomos de Transportes Privado Individual Por Aplicativos no Distrito Federal (Sindmaap-DF), cerca de 20% dos que trabalhavam com as plataformas já desistiram de continuar rodando. Isso reflete também na demora que passageiros enfrentam para conseguir utilizar o serviço.
“Existem corridas que o motorista está pagando para correr, por isso a maioria vem fazendo o mínimo possível, rodando só em horário que há dinâmica de preços. Aumentou o preço da gasolina, do óleo, do pneu, mas o repasse do preço da corrida para os motoristas não aumenta”, reclama o presidente do Sindmaap, Marcelo Chaves.
Um dos motoristas que afirmam vir sofrendo com o alto preço do combustível é Luciano Brito, 27. Ele explica que a dificuldade em se arranjar um emprego formal é o que ainda mantém muitos motoristas no aplicativo. Caso contrário, a debandada seria ainda maior.
“Hoje em dia é mais gasto do que lucro. A tarifa para a gente não acompanha os nossos custos. O que eu mais vejo é gente nos grupos de motoristas falando que vão desistir, principalmente os que rodam com carro alugado”, relata.
Há dois anos no aplicativo, ele diz o preço da gasolina na época que começou ainda permitia algum lucro, diferentemente de agora. “Todo dia, o mínimo que se gasta para abastecer é R$ 100. Por isso eu só rodo em horário de pico, levando as pessoas para o trabalho. Começo às 6h, vou até 10h e depois desligo o aplicativo. Volto só às 17h”, conta.
A mesma estratégia é adotada por João Paulo Gomes, 26. “Não dá para ficar fazendo viagem de quatro quilômetros, pois o app vai cobrar R$ 8,50 e eu fico com R$4,50. Um valor desse que não paga a gasolina do deslocamento, até o passageiro e a corrida propriamente dita”, destaca.
Aplicativos x Gasolina
Procurada pela reportagem, a 99 informou que tem como prioridade “a melhoria dos ganhos e maior eficiência na rotina dos motoristas parceiros”. Segundo a empresa, neste ano já foram mais de R$ 2,5 milhões em desconto em postos de gasolina de uma rede parceira.
O aplicativo disse ainda que vem praticando uma série de incentivos em diversos lugares do Brasil como a cobrança de taxa zero em alguns dias do mês e incentivos que oferecem bônus financeiros para quem atingir uma determinada meta.
A 99 afirmou também que desde abril de 2020 foram mais de R$ 150 milhões destinados em ações para apoiar quem usou o aplicativo, tanto os motoristas parceiros, quanto os passageiros. Sobre o tempo de espera na plataforma, “é importante lembrar que o volume de corridas já havia voltado em 100% do registrado antes da pandemia no final do ano passado. Com as regras de flexibilização, mais gente vem usando o serviço, o que pode causar demora em determinados dias e horários de pico”.
Já a Uber informou que busca “sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade dos consumidores que usam a plataforma, tendo em vista a preservação do equilíbrio entre oferta e demanda que é fundamental para a plataforma”.
A empresa considera que o alto tempo de espera, na verdade, se dá pela “alta demanda por viagens” por causa do “avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades”.
Com relação ao aumento da gasolina, o aplicativo diz que o programa de vantagens para parceiros, o Uber Pro, possui parceria com uma rede de postos de combustível que garante vantagens como cashback no abastecimento.
“Em Brasília, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.150 a R$ 1.250 na semana. Em um mês, significa que os motoristas estão com média de ganhos superior aos rendimentos mensais de várias atividades no país, como fisioterapeutas, intérpretes, marceneiros ou corretores de seguros, por exemplo, de acordo com dados do site Trabalha Brasil, que compila essas informações”, diz a empresa.
Fonte: Matheus Garzon, Metrópoles