O segundo semestre do ano de 2023 começou de maneira incomum. Ainda em junho, percebeu-se um inverno bem menos rigoroso em algumas regiões do país. Em agosto, as altas temperaturas começaram a chamar certa atenção, piorando em setembro, outubro, e novembro.
Recentemente, o sistema Copernicus Climate Change indicou que o mês de novembro deste ano registrou as temperaturas mais elevadas já observadas globalmente. De acordo com esse observatório europeu, 2023 está no caminho para ser o ano mais quente já registrado, ressaltando a gravidade da crise climática.
Cada mês de 2023, até agora, figura entre os dez mais quentes para seus respectivos períodos, quando comparados com anos anteriores. O Copernicus revelou que a temperatura média global em novembro foi aproximadamente 0,85°C acima da média do período entre 1991 e 2020, atingindo 14,22°C. Este valor supera em 0,32°C o recorde anterior, registrado em 2020.
Samantha Burgess, vice-diretora do Copernicus Climate Change Service, enfatizou que as temperaturas excepcionais de novembro, incluindo dois dias com mais de 2°C acima da média pré-industrial, indicam que 2023 é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos. Comparando com a média de novembro do período pré-industrial (1850-1900), a anomalia de temperatura de novembro de 2023 é ainda mais evidente, sendo cerca de 1,75°C mais quente.
Desde janeiro até novembro, a temperatura média global foi a mais alta já registrada, com um aumento de 1,46°C em relação à média pré-industrial. Esse valor já excede a média dos primeiros onze meses de 2016, anteriormente o ano mais quente registrado. O Acordo de Paris de 2015 estabelece que os esforços globais devem ser direcionados para limitar o aumento da temperatura média global a no máximo 2°C, preferencialmente abaixo de 1,5°C.
Embora os dados atuais sejam alarmantes, eles não significam necessariamente que as metas do Acordo de Paris estejam fora de alcance, considerando que o acordo aborda períodos de tempo mais extensos. No entanto, a situação atual, juntamente com os compromissos climáticos dos países, sugere que a meta de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C está se tornando cada vez mais desafiadora.
O Copernicus também considera eventos como o El Niño em suas análises. O fenômeno, que afeta as temperaturas da superfície do oceano Pacífico Equatorial e tem efeitos climáticos globais, foi menos intenso em 2023 do que durante o forte evento de 2015.
A informação surge em um momento crítico, durante as negociações climáticas da COP28 em Dubai, onde autoridades mundiais discutem o futuro dos combustíveis fósseis e a influência dos lobistas da indústria.
Além do Copernicus, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) também prevê que 2023 será o ano mais quente já registrado, com uma média de temperatura 1,4°C acima dos níveis pré-industriais. O relatório reforça a onda de recordes climáticos quebrados, incluindo altos níveis de gases de efeito estufa, temperaturas globais e aumento do nível do mar, bem como baixos níveis de gelo marinho na Antártida – como nunca antes vistos.
Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service, enfatiza que enquanto as concentrações de gases de efeito estufa continuarem aumentando, podemos esperar que as temperaturas sigam subindo, juntamente com o aumento dos impactos de ondas de calor e secas.
Impactos
O aumento recorde da temperatura global em 2023, como registrado pelo sistema Copernicus Climate Change e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), traz consigo impactos significativos tanto na economia quanto na saúde pública. Eles são multifacetados e interconectados, afetando diferentes setores e populações de várias maneiras.
Impactos Econômicos
- Agricultura e Segurança Alimentar: O aumento das temperaturas afeta diretamente a agricultura, reduzindo a produtividade das colheitas e comprometendo a segurança alimentar. Culturas sensíveis ao calor e à variação do regime de chuvas podem ter seus ciclos de crescimento alterados, resultando em menor rendimento e qualidade. Isso pode levar ao aumento dos preços dos alimentos e afetar a economia, principalmente em países dependentes dessa atividade.
- Indústria e Energia: O aquecimento global exige mais energia para refrigeração, colocando uma pressão adicional na infraestrutura energética e aumentando os custos das operações. Indústrias que dependem de recursos naturais, como a pesca e a silvicultura, também são afetadas pelas mudanças climáticas, impactando a economia e o emprego nestes setores.
- Turismo: Mudanças climáticas podem afetar o turismo, especialmente em áreas sensíveis ao clima, como regiões costeiras e montanhosas, que são mais procuradas. O aumento do nível do mar, tempestades mais frequentes e extremas, e temperaturas mais altas podem reduzir a atratividade dessas áreas.
- Seguros e Finanças: A frequência crescente de eventos climáticos extremos, como inundações, secas e incêndios florestais, aumenta os riscos para as seguradoras, podendo levar a um aumento nas apólices de seguro e impactar os mercados financeiros.
Impactos na Saúde
- Ondas de Calor e Doenças Relacionadas: As ondas de calor, mais frequentes e intensas devido ao aumento das temperaturas, podem resultar em um número maior de doenças como insolação e desidratação, além dos riscos cardiovasculares, podendo aumentar as taxas de mortalidade, especialmente entre os idosos e outros grupos vulneráveis.
- Qualidade do Ar e Doenças Respiratórias: O aumento da temperatura pode piorar a qualidade do ar, intensificando a poluição e aumentando a incidência de doenças como asma e bronquite.
- Doenças Vetoriais: O aquecimento global também favorece a expansão geográfica de vetores de doenças, como mosquitos, aumentando o risco de enfermidades graves como malária, dengue e zika em regiões anteriormente não afetadas.
- Saúde Mental: Os impactos das mudanças climáticas e eventos climáticos extremos também afetam a saúde mental das pessoas, gerando estresse, ansiedade e outros transtornos mentais, especialmente em comunidades que enfrentam deslocamentos ou perdas devido a desastres naturais.
Portanto, a necessidade de mitigar esses impactos econômicos e de saúde é urgente. Isso implica em adotar políticas climáticas mais robustas, investir em tecnologias sustentáveis, melhorar a infraestrutura de saúde pública e conscientizar as comunidades sobre as medidas de adaptação e resiliência. A cooperação internacional e a ação coletiva são fundamentais para enfrentar, de forma eficaz, as consequências do aumento recorde das temperaturas globais.