O ditador venezuelano Nicolás Maduro reagiu com desdém às declarações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que expressou preocupação com as afirmações de Maduro sobre um possível “banho de sangue” caso seja derrotado nas eleições venezuelanas. “Quem se assustou que tome um chá de camomila”, disse Maduro nesta terça-feira, um dia após Lula afirmar que estava assustado com as declarações do venezuelano.
Durante uma entrevista, Maduro reafirmou sua posição sem mencionar diretamente o presidente brasileiro. “Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila. Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita”, declarou.
Lula, por sua vez, demonstrou sua inquietação em entrevista à imprensa estrangeira, enfatizando que derrotas eleitorais devem ser tratadas com respeito aos votos, não com violência. “Fiquei assustado com as declarações […]. Quem perde as eleições toma um banho de votos, não de sangue. Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, afirmou.
Maduro fez referência ao “Caracazo”, um levante popular em fevereiro de 1989 que resultou em milhares de mortes, segundo denúncias. O evento histórico foi usado por Hugo Chávez, antecessor de Maduro, para justificar uma insurreição fracassada que liderou em 1992, marcando o início de sua ascensão política.
“Eu disse que se a direita extremista chegasse ao poder político na Venezuela haveria um banho de sangue. E não é que eu esteja inventando, é que já vivemos um banho de sangue, em 27 e 28 de fevereiro”, afirmou Maduro, referindo-se ao “Caracazo”. O ditador ainda previu uma vitória histórica nas próximas eleições: “Eu prevejo para aqueles que se assustaram que na Venezuela vamos ter a maior vitória eleitoral da história”.
Repercussão
O diplomata Edmundo González, candidato da principal aliança opositora, agradeceu a Lula por suas palavras de apoio a um processo eleitoral democrático. “Agradecemos as palavras do presidente em apoio a um processo eleitoral pacífico e amplamente respeitado na Venezuela. Valorizamos agradecidamente a presença do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para observar o processo do próximo domingo. O mundo nos observa e acompanha”, declarou González.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela convidou organizações sociais brasileiras simpáticas ao chavismo para acompanhar as eleições. Inicialmente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro recusou um convite para enviar observadores, mas posteriormente decidiu enviar dois técnicos para monitorar o pleito.
A relação entre o governo de Lula e a ditadura de Maduro tem enfrentado tensões crescentes, especialmente devido às obstruções do regime venezuelano no processo eleitoral. Em março, o governo brasileiro criticou o bloqueio à candidatura de Corina Yoris, escolhida pela oposição para substituir María Corina Machado, impedida de se candidatar pela Justiça venezuelana.
Em nota, o Itamaraty expressou “expectativa e preocupação” com o desenrolar do processo eleitoral na Venezuela, marcando uma mudança na postura até então adotada por Lula em relação ao regime de Maduro. Outros sete países da América Latina também manifestaram “grave preocupação” com a situação, incluindo Argentina, Uruguai, Peru, Paraguai, Costa Rica, Equador e Guatemala. O Brasil aguardou o fim do prazo eleitoral para o registro de candidaturas antes de se pronunciar oficialmente.