Covid-19: Quase um quarto dos municípios teve que interromper a vacinação nesta semana por falta de imunizantes para a primeira dose. O dado é de um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que apurou a situação em 2.096 prefeituras entre 19 e 22 de abril.
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O levantamento também apurou a disponibilidade do chamado “kit intubação”, essencial para entubar os pacientes graves da Covid, e de oxigênio hospitalar. Em resumo, os dados mostram que:
- 24,3% dos municípios ouvidos (499), o equivalente a um quarto deles, estão sem vacina para aplicar a 1ª dose
- 28,1% dos municípios ouvidos (591) estão em risco iminente de ficarem sem “kit intubação”
- 8,1% dos municípios ouvidos (171) estão em risco iminente de ficarem sem oxigênio
O levantamento também mostrou que em pelo menos 182 municípios há pacientes intubados em Unidades de Pronto Atendimento (Upas).
A lista dos quase 500 municípios que relataram falta de primeiras doses não foi divulgada pelo CNM. Matérias do G1 mostram que cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina interromperam a vacinação nesta semana.
Desde o início de abril, Curitiba, Goiânia, Brasília, Maceió, Rio Branco e Teresina também relataram falta de doses e interromperam a imunização.
A entidade informou que o levantamento não teve resposta da totalidade de cidades no país, 5.568 municípios, “por conta do feriado na quarta-feira (21)”, quando muitas secretarias municipais suspenderam suas atividades.
Covid-19: Kit entubação e oxigênio
Quanto à disponibilidade do “kit intubação”, remédios usados para passar o tubo no paciente, a pesquisa mostra que, desde o início de abril, houve redução dos municípios que relataram estar em “risco iminente” de ficarem desabastecidos:
- Semana 1: 1.207 municípios com risco de acabar o kit intubação
- Semana 2: 975 municípios com risco de acabar o kit intubação
- Semana 3: 591 municípios com risco de acabar o kit intubação
No que diz respeito aos estoques de oxigênio, o levantamento mostra que também houve uma leve queda no número de municípios que relataram estar em “risco iminente” de ficarem sem oxigênio durante abril:
- Semana 1: 589 municípios com risco de ficarem sem oxigênio
- Semana 2: 391 municípios com risco de ficarem sem oxigênio
- Semana 3: 171 municípios com risco de ficarem sem oxigênio
Escassez de vacinas deve piorar
Mesmo com um cenário já preocupante, o presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) Wilames Freire afirmou em entrevista à GloboNews que a escassez de vacinas contra a covid-19 deve piorar nos próximos dois meses, uma vez que o Brasil corre o risco de ficar sem Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima para produção dos imunizantes.
“Nós temos um cronograma de vacinas [do Ministério da Saúde] que a todo momento é corrigido para baixo (…). Agora, com a pandemia chegando na Índia forte como estamos visualizando (…) nos preocupa muito, porque o IFA que utilizamos no Brasil, em grande parte vem da Índia”, informou o presidente do Conasems.
“Nossa previsão é que, nesses 60 dias, quando temos IFA para receber, a Índia passando pela dificuldade que está (…) nós temos a preocupação de que a Índia possa privilegiar a produção local de vacinas para poder resolver o seu problema”, disse Freire.
Freire informou que na quinta-feira (22), durante a CPI da Covid-19, o Conasems informou os parlamentares sobre o risco de desabastecimento de IFA vindo da Índia.
De modo geral, os lotes de IFA importados pelo Brasil têm chegado com dias, até semanas de atraso. Na última segunda-feira (19), por exemplo, o Instituto Butantan recebeu 3 mil litros de insumos vindos da China. O carregamento deveria ter chegado em São Paulo, contudo, no final de março. Com o atraso, milhões de doses da Coronavac que deveriam estar sendo entregues ao Ministério da Saúde nesta semana serão enviadas somente 10 de maio.
CPI da Covid-19
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinou em 8 de abril a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar eventuais omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de Covid.
Um dos eixos investigados são justamente ações do governo que levaram a escassez de vacinas neste momento. Em agosto do ano passado a farmacêutica Pfizer ofereceu ao Brasil 70 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, com entrega prevista para dezembro de 2020, mas o governo não quis.
O ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten afirmou em entrevista publicada nesta quinta-feira (22) no site da revista “Veja” que o atraso do governo na aquisição de vacinas foi motivado por “incompetência” e “ineficiência” do Ministério da Saúde. Ele lembrou o episódio de recusa do governo das doses da Pfizer no ano passado.
“As negociações avançaram muito. Os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo dos US$ 10. Só para se ter uma ideia, Israel pagou US$ 30 para receber as vacinas primeiro. Nada é mais caro do que uma vida. Infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde”, disso Wajngarten à revista.
Fonte: Laís Modelli, G1