Para o início de 2022, o brasiliense vai gastar, em média, 10% a mais do que o valor desembolsado nos primeiros meses de 2021. Impostos, compras como material escolar e parcelas vindas do ano anterior podem pesar no bolso dos moradores do Distrito Federal.
O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) serão, cada um, 10,42% mais caros, por exemplo. Os preços dos materiais escolares subiram 10% também. Os valores assustam e os moradores da capital federal se preparam para as despesas iniciais do ano que se aproxima.
Cleonice Oliveira, 53 anos, é secretária e afirma que, assim que receber o salário, vai separar o valor do IPTU e do IPVA. Em 2021, ela atrasou o pagamento dos impostos e teve de arcar com juros e multas. “Foi horrível, nunca mais quero atrasar. Se possível, prefiro até pagar tudo de uma vez”, diz. Moradora do Riacho Fundo 2, ela conta que, quando souber o valor a pagar, vai decidir se parcela ou quita em cota única.
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Ela reclama dos sucessivos aumentos dos impostos. Cleonice pagou cerca de R$ 300 de IPTU e R$ 692 de IPVA em 2021. Agora, o valor poderá chegar a R$ 331,26 e R$ 764,10, respectivamente. “São caros e pesam muito no fim do mês. A cada ano que passa, eles só aumentam. A gente paga em um ano sabendo que vamos pagar mais caro no próximo”, desabafa. Ela espera que os impostos sejam aplicados. “Temos que ver o retorno. Não pagamos à toa”, completa.
Para 2022, o Governo do Distrito Federal (GDF) mudou a base de cálculo de impostos e utilizará o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para o IPTU e o IPVA. O INPC é um dos índices da inflação e estabelece a correção do poder de compra do salário dos brasileiros de renda mais baixa.
O IPVA, historicamente baseado na Tabela Fipe, terá a cobrança reajustada pelo índice, que já é usado para calcular o IPTU. O marcador é resultado do acumulado da inflação dos últimos 12 meses até agosto deste ano. Porém, as alíquotas serão as mesmas (Leia alíquotas). O IPVA começa a vencer em fevereiro. O IPTU, em maio. No DF, será possível dividir em até seis vezes. Quem pagar em cota única e em dia terá desconto de 10%.
Material escolar
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório, Papelaria e Livraria do DF (Sindipel-DF), José Aparecido, os materiais escolares sofreram aumento de 10% a 11% neste ano. “É uma alta já prevista anualmente devido aos reajustes da inflação”, explica. Segundo ele, os valores gastos dependem, principalmente, da série em que o aluno está matriculado.
“Este ano, as listas estão diferentes dos anteriores, pois, com a pandemia, algumas escolas deixaram de pedir certos materiais. Mas, acho que os valores gastos não devem mudar”, considera. José afirma que os custos vão de R$ 600 a R$ 3 mil (Leia material escolar).
Bruno Teixeira, 37, afirma que sentiu no bolso o aumento de 10%. Ele já comprou parte dos materiais da filha que vai para a 1ª série do ensino fundamental e o gasto quase chegou a R$ 500. “Foram R$ 479, cerca de 10% a mais que no ano passado. Isso sem os livros que ainda vamos comprar. Estamos prevendo um gasto de mais R$ 979”, detalha o morador de Águas Claras. Analista de sistema, Bruno diz que conta com o 13º salário para equilibrar o orçamento.
Planejamento
Segundo Newton Marques, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), umas das dicas para não se endividar ao longo do ano é estar atento às datas de pagamento das contas. Para ele, o planejamento é uma parte importante das finanças domésticas.
“É preciso separar o que é gasto essencial, ou seja, não pode ficar para depois, e o que não é. Matrículas, pagamento de impostos, contas como água e luz, são coisas que precisam ser pagas o quanto antes. O que não for essencial pode esperar ou ser cortado”, detalha. O professor afirma que o ideal é que cerca de 10% da renda familiar seja direcionada para o pagamento de impostos, mas cada caso precisa ser analisado. “As realidades são diferentes”, justifica.
Outro item que deve ser considerado é o cartão de crédito. De acordo com uma pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-DF), cerca de 42,57% dos brasilienses vão pagar as compras de Natal por meio do cartão de crédito. Ou seja, terão que continuar arcando com a dívida por um tempo.
Newton explica que o meio não é a melhor forma de fazer compras, mas, se for utilizado, deve considerar a renda atual. “Não dá para fazer parcelas que não caibam no planejamento financeiro. Uma hora a cobrança vai vir e, se não for paga, vai cobrar juros — que estão altíssimos”, alerta.
Foco nas renegociações
No Distrito Federal, de acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), até novembro deste ano, cerca de 769,5 mil brasilienses estavam endividados, sendo 223,3 mil com contas atrasadas e 104,5 mil sem condições de pagar as pendências. O presidente do Conselho Regional de Economia, Cesar Bergo, afirma que, para quem está nesta situação, há duas maneiras de tentar sair.
“A primeira é por meio de empréstimos. Lembrando que isso não é o ideal. É importante buscar empréstimos com um banco que tenha juros menores do que os aplicados nas dívidas”, orienta. Outra dica importante é buscar por programas de renegociação. “Muitos bancos grandes estão com ações do tipo e elas possibilitam o oferecimento de descontos ou prazos que podem ser benéficos ou facilitar o pagamento do devedor”, completa.
Sanadas as dívidas, Cesar afirma que é preciso estar atento para não retornar à situação de inadimplente. “O endividamento em si é uma questão que atinge muitas famílias e aumentou de três anos para cá. Agora, a prioridade é ter disciplina para não aumentar as dívidas. Tem que se priorizar os pagamentos, ou seja, identificar o que é mais importante e o que pode ser cortado. Energia elétrica e água, por exemplo, são essenciais”, afirma.
Por fim, Cesar reforça a necessidade de ter uma educação financeira. “Basta ir atrás. Alguns bancos também oferecem cursos do tipo”, diz.
Alíquota do imposto
A alíquota é um percentual usado para calcular o valor final de um imposto.