Comemorar o Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, durante a pandemia da covid-19 é um desafio para casais que querem sair de casa e principalmente para hotéis e motéis do Distrito Federal. No ano passado, o setor sofreu com baixas e a expectativa para 2021 é melhor. Estimativa do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) é de que, em 2021, registre-se um aumento de 8% nas vendas. A data deve injetar R$ 102 milhões na economia do Distrito Federal, movimentando diferentes tipos de comércios, como lojas de entrequadras e shoppings, bares, restaurantes, hotéis, motéis e floriculturas, segundo a associação.
Em alguns estabelecimentos a procura aumentou consideravelmente e as promoções foram uma estratégia encontrada para atrair mais clientes. Ellen Rodrigues, especialista do setor digital do Meliá (Setor Hoteleiro Sul) conta que os pacotes de jantar e hospedagem para o próximo sábado estão esgotados. Uma das opções que conta com café da manhã no restaurante, espumante ou vinho, caixa de chocolate e decoração romântica no quarto sai a partir de R$ 455.
Ela conta que, em 2020, a demanda de reservas foi abaixo do esperado. “Neste ano para o dia dos namorados, como tivemos outros dois hotéis com esse tipo de serviço, dá para sentir que a demanda foi mais rápida, em menos de duas semanas. Conseguimos vender mais de 75 tipos de pacotes”, complementa.
Para seguir os protocolos sanitários contra a covid-19, a rede hoteleira tem contrato com certificadores de limpeza e de protocolo sanitário. “Seguimos os decretos impostos em Brasília, e a certificadora faz toda a vistoria com o selo de hotel responsável para fazermos o tipo de serviço no dia dos namorados. As mesas têm distanciamento de 2 metros, sem pessoas dançando, sempre indo ao banheiro de máscara. Também disponibilizamos álcool em gel pelo hotel, assim como é determinado pelos órgãos de saúde”, assegura.
O Fantasy Motel, situado no Setor de Indústria e Abastecimento (Sia), pretende faturar 50% a mais do que no ano passado no dia dos namorados. Segundo o gerente-geral da acomodação, Cláudio Faria, em 2020, pouco mais de 50% das suítes estavam fechadas. “Neste ano, temos 68 quartos, mas estamos trabalhando com 51 com, no máximo, duas pessoas por suíte. Mas devemos ter de 50 a 100 ocupações nas suítes de sexta-feira a domingo. Ano passado, trabalhamos com 26 suítes, com 40 a 50 ocupações (aluguéis). Em 2019, foram 120 ocupações de suítes para o fim de semana. O motel foi bastante afetado com a pandemia, mas, aos poucos, estamos voltando com o movimento, que está em torno de 40% do que era antes”, detalha.
Desde março do ano passado, uma funcionária especializada em limpeza faz a higienização do espaço. “Além da suíte ser aberta com janelas de um lado e do outro, usamos os mesmos produtos que são usados em hospitais, como desinfetante, antibacteriano, antitabaco, cloro detergente floral e álcool 70% para limpar maçanetas, telefones, ou seja, os objetos tocados pelos clientes nas suítes. Após usada, a suíte tem que passar três horas sem ser ocupada para fazermos o processo de limpeza. Temos dispensadores nos corredores e nas suítes. E, quando o cliente chega, é obrigatório o uso de máscara até a entrada no quarto”, esclarece o gerente.
Cuidados
O infectologista Hemerson Luz lembra que o vírus é muito sensível a produtos de limpeza e que um simples sabão, desinfetante e produtos de limpeza, além do álcool em gel e da água sanitária, conseguem desativá-lo. “Se o hotel ou motel tiver um bom padrão de higiene entre uma locação de hóspedes e outra, ele consegue diminuir o risco de infecção”, orienta.
Segundo ele, em quartos de hotéis e motéis, provavelmente não há aglomerações e a chance de contágio por meio de superfícies é menor. “Mas sempre haverá o risco de contaminação. Os clientes devem observar o padrão de limpeza e se há alguma certificação de que a higienização foi feita. Os locais têm de estabelecer rotinas de limpeza e capacitar os funcionários”. É importante que os hotéis e motéis treinem os funcionários na desinfecção, em como aplicar os produtos de limpeza e também nas formas de transmissão e sintomas da doença para saberem se eles próprios ou os clientes têm risco de estarem contaminados”, orienta o médico. Ele reforça, ainda, a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) pelos funcionários”.
Dia dos Namorados na pandemia
Em setembro de 2020, a estudante de enfermagem, Mariana Cândida Silveira, e o empresário Wanderson da Silva Santos, ambos com 22 anos, começaram a namorar durante a pandemia. Apesar de se conhecerem desde 2013, quando estudaram juntos no ensino fundamental, voltaram a se falar somente em junho do ano passado. Ela respondeu uma caixa de perguntas em uma rede social e eles começaram a conversar. Em 27 de junho de 2020, marcaram de se encontrar em frente a casa da avó de Mariana, perto da antiga escola dos dois. “O Wanderson sempre quis um relacionamento sério, e eu sempre fugia disso. Ele fez uma surpresa no dia em que completamos seis meses de namoro, em 27 de março. Ele me pediu em casamento, ficamos à beira do Lago Paranoá, com nossos pais e alguns amigos presentes”, relata a moradora do Riacho Fundo 2. Mariana conta que eles tentaram manter os cuidados sanitários durante a pandemia. “Para fazer qualquer coisa era bastante difícil. Tudo estava fechado e sempre evitávamos aglomerações. E não frequentávamos a casa um do outro”, diz a jovem.
Eles vão se casar no ano que vem e esperam uma realidade sem pandemia. “Meu pavor é ter que casar usando máscara, então adiamos para 2022, na esperança de que tudo se normalize até lá”, sonha Mariana. Wanderson promete levar a futura esposa a um lugar bem bonito durante a noite dos namorados. “Ela ainda não sabe onde é. Vai ser surpresa, mas já falei para ela se arrumar bem chique”, afirma.
Em setembro de 2020, o técnico em agropecuária Igor Rafael de Barros Ramos, 21 anos, e o estudante de arquitetura Samuel de Mattos Coutinho, 23, se conheceram por um aplicativo de relacionamentos. Em novembro do mesmo ano, eles começaram a namorar após um passeio pelo Parque da Cidade. “Os nossos encontros sempre eram em local aberto, principalmente por causa das nossas famílias, que têm pessoas do grupo de risco da covid-19. A minha mãe sempre foi muito rigorosa em relação a isso”, afirma Igor, morador do Jardim Botânico.
Ele lembra quando recebeu o pedido de namoro de Samuel. “Ele me perguntou se eu queria ficar sério com ele. Eu, já apaixonado, disse que sim, e não nos separamos mais. Depois de três semanas, em 6 de novembro de 2020, pedi o Samuel em namoro oficialmente no mesmo lugar em que nos encontramos pela primeira vez. Foi tudo muito lindo.”
O amor do casal representou para Samuel a quebra de uma barreira. Ele decidiu contar aos pais que é homossexual. “Depois de alguns meses saindo alguns fins de semana nos mesmos horários, meus pais me perguntaram com quem eu estava namorando e eu falei que estava namorando o Igor. A reação deles foi muito melhor do que eu esperava e, então, depois de algumas semanas, foi o meu aniversário. Eu o convidei para vir (em casa), e meus pais gostaram muito do Igor”, relembra o rapaz, que mora no Grande Colorado.
Fonte: Ana Maria da Silva, Pedro Marra, Mateus Gaudêncio, Correio Brasiliense