Desemprego no DF: A falta de emprego recaiu intensamente sobre os jovens do Distrito Federal durante a pandemia, no período compreendido entre maio de 2020 e abril de 2021. Enquanto que o desemprego total da população economicamente ativa (PEA) juvenil estava em 35,2%, a proporção foi praticamente três vezes menor à de adultos (11,9%).
De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF) feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), em parceria com o Dieese, a juventude no DF correspondia a 28,9% da população em idade ativa no período. Isso representa 713 mil pessoas, distribuído em três grupos distintos — adolescentes, com idade entre 15 e 17 anos (5,3%); jovens entre 18 e 24 anos (14,7%); e jovens adultos, na faixa etária entre 25 e 29 anos (9,5%). Dos residentes do DF com idade entre 15 e 29 anos, 65,7% participavam do mercado de trabalho como ocupados (42,6%) ou desempregados (23,2%), enquanto 34,3% compunham o grupo de inativos.
A situação descrita no Boletim Juventude e Mercado de Trabalho, divulgado, nesta quarta-feira (11/8), em alusão ao Dia Internacional da Juventude, celebrado nesta quinta, se expressa em elevadas taxas de desemprego, a dificuldade em conciliar estudo e trabalho e a pequena probabilidade de inserção qualificada, visto que a maior parcela da juventude não adquiriu experiência em trabalhos anteriores ou formação escolar correspondente.
A pesquisa também relata as porcentagens distribuídas entre gêneros e raças. Os dados da PED-DF sobre o perfil dos jovens de 15 a 29 anos ocupados no DF mostrou que a maioria era de homens, 55,5%, e, principalmente, negros, 67,6%. De acordo com a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD-DF), feita em 2018, 1.659.995 habitantes são negros (57,6%).
É o caso do estudante Jhonnathan Duarte, 23 anos, morador de Ceilândia Sul. Ele relatou que as maiores dificuldades na busca pelo primeiro emprego é a falta de experiência. O jovem falou que, geralmente, ele fica desmotivado para procurar oportunidades no mercado de trabalho. “A maioria das descrições de vagas, informa que as empresas exigem experiência profissional na área ou que ela é um fator diferencial. Ao ler isso, de certa forma já me faz pensar que não terei chances alguma”, contou.
O estudante pontua que mais oportunidades nesses tempos de pandemia poderia melhorar a situação dele e de outros jovens desempregados. “Creio que muitas empresas preferem contratar pessoas com experiência para facilitar e evitar a etapa onde eles ensinam o que é para fazer. Mas quanto a isso, tenho uma opinião diferente. Acho que o profissional novato pode ser melhor para o local, e a empresa pode moldá-lo e fazer dele um também excelente profissional”, disse o jovem.
Mulheres e o desemprego
Independentemente das três faixas etárias observadas, a exclusão ocupacional entre jovens atinge diferencialmente a parcela feminina, cuja taxa de desemprego média era de 39,3%, em relação à masculina, de 31,6%. Já a participação das mulheres entre os ocupados foi relativamente superior no segmento que conciliava estudo e trabalho (48,8%).
A moradora de Samambaia Maria Clara Falcão, 17 anos, está em busca de uma vaga de emprego. Ela conta que trabalhou durante a pandemia da covid-19 de forma remota. “Eu achei um pouco difícil pelo fato de ser de casa. Tinha dias que eu atendia cerca de 150 ligações por dia”. Mesmo com a experiência na área de telemarketing, a procura por uma nova vaga no mercado de trabalho para a estudante tem sido difícil.
Segundo a Secretaria do Trabalho do Distrito Federal (Setrab), todos os dias são disponibilizadas cerca de 200 vagas de empregos, amplamente divulgadas na mídia e site da pasta. “Neste ano, além do programa de microcrédito Prospera, que já emprestou mais de R$ 3 milhões para pequenos empreendedores, em especial, àqueles que estão iniciando um negócio, essa frente conta com uma maioria de jovens em seu perfil. A meta da Setrab é continuar com ações positivas para qualificar um número significativo de jovens, por meio do programa Renova DF”, declarou a secretaria por meio de nota.
Para a pasta, a pandemia beneficiou a empregabilidade dos cidadãos mais jovens não apenas pela questão de serem menos vulneráveis ao vírus, mas por serem mais adequados à implantação e aplicação de novas tecnologias que estão sendo exigidas no mercado atual.
Números
Boletim Juventude e Mercado de Trabalho realizado pela Codeplan e o Dieese entre maio de 2020 e abril de 2021
População de 15 a 29 anos do DF
Total: 713 mil
Destes, 65,7% participavam do mercado de trabalho como:
Empregados: 42,6%
Desempregados: 23,2%
Inativos: 34,3%
Desemprego total: 35,2% (considerando toda a população de 15 a 29 anos do DF)
Trabalham
Gênero
Homens: 55,5%
Mulheres: 44,5%
Raça
Negros: 67,6%
Não negros: 32,4%
Modalidade
Com carteira assinada: 61,3%
Autônomos: 15,3%
Servidores públicos: 8,3%
Estagiários ou aprendizes: 8,4%
Apenas trabalham
Homens: 56,8%
Mulheres: 43,2%
Negros: 69,2%
Não negros: 30,8%
Trabalham e estudam
Homens: 51,7%
Mulheres: 48,3%
Negros: 62,9%
Não negros: 37,1
Setores que mais empregam
Serviço: 65,6%
Comércio e reparação: 25,1%
Construção: 4,9%
Indústria: 3,3%
Demais setores: 1,1%
Rendimento médio mensal
R$ 1.911
Palavra de especialista
Da escola ao trabalho
Basicamente, o desemprego dos jovens é o custo da transição entre o sistema escolar e o mundo do trabalho. A falta de articulação entre esses dois segmentos resulta em taxas de desemprego elevadas. Países que têm boa articulação — Alemanha, Suíça, Áustria, países nórdicos — apresentam taxas de desemprego dos jovens baixas. Países onde essa articulação deixa a desejar — Sul da Europa, América Latina — registram taxas de desemprego dos jovens muito superior à média da população ativa.
Não ter um perfil de habilidades, proficiências, compatível com as necessidades dos empregadores dificulta que jovens consigam a primeira oportunidade. Além disso, não ter antecedentes no mercado de trabalho torna a contratação muito arriscada. E a falta de maturidade ou habilidades sócio-emocionais são fatores que contribuem. O sistema escolar também não proporciona habilidades cognitivas, técnicas e sócio-emocionais.
Dicas para o público que procura emprego no DF é, basicamente, realizar cursos técnicos e de formação que permitam acumular destrezas que sejam úteis nas vagas que estão abertas. Em paralelo, fazer estágios para ter referências que permitam obter credenciais e competitividade nos postos de trabalho aos quais se postulam. Articular os sistemas de ensino ao mercado de trabalho. Ou seja, articular o que a juventude estudou no sistema escolar às necessidades dos empregadores, e desenvolver integralmente os jovens no sistema escolar: capacidade cognitiva + habilidades técnicas + habilidades sócio-emocionais.
Carlos Alberto Ramos, professor de economia da UnB