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Suspeito de liderar tráfico na FAB movimentou R$ 5 milhões em 3 anos

26 de outubro, 2021
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Chico Bomba foi preso por ameaçar testemunhas e é suspeito de liderar tráfico internacional por meio da FAB. Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles
Chico Bomba foi preso por ameaçar testemunhas e é suspeito de liderar tráfico internacional por meio da FAB. Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Preso há uma semana por ameaçar testemunhas e, supostamente, liderar o tráfico internacional de cocaína por meio de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), o empresário Marcos Daniel Penna Borja Rodrigues Gama, conhecido como Chico Bomba, teria acumulado milhões com a atividade ilegal.

Em três anos, Marcos Daniel movimentou ao menos R$ 5 milhões. O Metrópoles teve acesso, com exclusividade, aos comprovantes de rendimento apresentados por ele na Receita Federal. A escalada financeira do investigado chegou ao ápice em 2019, mesmo ano em que o sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues foi preso, na Espanha, com 39 kg de entorpecente.

A suspeita é que os valores apresentados ao Fisco são apenas uma pequena fatia das cifras milionárias movimentadas por Chico Bomba na capital federal e em estados, como a Bahia, onde fez investimentos. Os recursos informados na declaração do Imposto de Renda seriam decorrentes da possível lavagem de dinheiro.

Arquivos obtidos pela coluna mostram que o narcotraficante não teve renda entre 2013 e 2014. Ele apresentou, entretanto, faturamento bruto de R$ 48,1 mil em 2015. No ano seguinte, o montante caiu para R$ 28,4 mil, mas voltou a subir em 2017, atingindo R$ 35,6 mil. Em 2018, Marcos recebeu o valor irrisório de R$ 2. O maior salto, contudo, foi registrado em 2019, quando o suspeito declarou à Receita Federal R$ 198,2 mil.

Marcos Daniel Penna Borja Rodrigues Gama, conhecido como “Chico Bomba”
Marcos Daniel Penna Borja Rodrigues Gama, conhecido como Chico Bomba

Vida de luxo sustentada pelo tráfico

Apesar de alegar não dispor de recursos no período, o empresário adquiriu, em 2013, um apartamento de luxo, na Asa Sul, pela bagatela de R$ 2,3 milhões, valor pago em espécie. Os auditores fiscais identificaram que a compra foi feita em nome da ex-companheira do empresário. Apuraram ainda que a mulher, no mesmo dia, doou o imóvel à filha do casal.

Questionada pelo Fisco sobre a aquisição milionária, ela afirmou que não tinha tal recurso e que o bem foi financiado por Marcos Daniel. No mesmo ano, Chico Bomba comprou um carro, modelo ASX da Mitsubishi, no valor de R$ 101,5 mil, sendo que R$ 96 mil foram, novamente, pagos em espécie e R$ 5 mil no cartão de débito.

As aquisições incoerentes com os montantes declarados voltaram a chamar a atenção da Receita Federal em 2015, quando Marcos Daniel comprou uma casa no Lago Sul, região nobre de Brasília, por R$ 1,6 milhão. Na ocasião, o suspeito pegou R$ 800 mil a título de empréstimo com o próprio pai. A quantia restante foi repassada em espécie. O Fisco também concluiu que o empresário fraudou escritura pública da residência. Na certidão, ele afirma ter comprado o bem por R$ 800 mil, menos da metade do valor real.

Veja imagens da mansão

https://www.youtube.com/watch?v=3R82Gtvtfm0
https://youtube.com/watch?v=lD82Wie-908

Academias

Preocupado em dar roupagem de licitude às transações suspeitas, ainda em 2015, Marcos Daniel comprou 33% de cota da Premier Academia no valor de R$ 1 milhão e 25% das cotas de uma rede nacional de academias por R$ 750 mil, ambas pagas em espécie. Ou seja, no intervalo de apenas três anos, Chico Bomba desembolsou ao menos R$ 4 milhões em notas de real.

Em 2018, Marcos Daniel chegou a aumentar a sua participação na Academia Premier comprando cotas por R$ 630 mil. Estabelecimento que, em fevereiro deste ano, foi alvo da Operação Quinta Coluna, deflagrada pela Polícia Federal, exatamente para apurar a suspeita de lavagem de dinheiro do tráfico nos aviões da FAB.

Já em 2019, o suspeito, ostentando a imagem de empresário bem-sucedido, fez investimento de R$ 1 milhão junto a uma construtora que, à época, estava com empreendimento em Barra Grande (BA). No papel de acionista, Marcos entregou aos sócios R$ 495 mil, em espécie. Ano passado, a incorporadora passou por uma crise financeira, e o narcotraficante teve de fazer empréstimo de R$ 2 milhões.

Os sócios relataram que chamou a atenção o fato de Marcos Daniel insistir em repassar a quantia em dólar. Os construtores, entretanto, negaram o recebimento alegando dificuldade em trocar a moeda. Diante do impasse, o empresário brasiliense teria indicado uma pessoa de sua confiança para fazer o câmbio, Márcio Moufarrege. Conforme o Metrópoles revelou em março deste ano, Moufarrege foi alvo de mandado de busca e apreensão da PF, também no âmbito da Operação Quinta Coluna.

Prisão

Marcos Daniel foi preso pela Polícia Federal no último dia 18. Na ocasião, foram cumpridos um mandado de busca e apreensão e outro de prisão preventiva. Chico Bomba é apontado como um dos líderes e financiador do esquema criminoso.

Segundo a PF, o acusado vinha ameaçando testemunhas do caso. Ele pode responder pelos crimes de tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico, com penas que podem chegar a 30 anos de prisão.

Fonte: Mirelle Pinheiro, Carlos Carone, Metrópoles

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