fbpx
Hospital Veterinário StarVet

3 em cada 4 estudantes da UnB enfrentaram problemas emocionais na pandemia

29 de dezembro, 2021
6 minuto(s) de leitura
Estudo do Ccar também mostra que quase metade dos professores passaram por dificuldade emocional que interferiu no trabalho. Foto: Secom/UnB
Estudo do Ccar também mostra que quase metade dos professores passaram por dificuldade emocional que interferiu no trabalho. Foto: Secom/UnB

Uma pesquisa realizada pelo Comitê de Coordenação das Ações de Recuperação (Ccar) da Universidade de Brasília (UnB) revelou que 78,7% dos estudantes de graduação da instituição enfrentaram algum problema emocional no último ano, durante a pandemia de Covid-19. No total, 11.328 alunos participaram da terceira edição do estudo.

A pesquisa ainda revela que 44% dos 1.848 professores que responderam ao questionário afirmaram ter enfrentado alguma dificuldade emocional que interferiu no trabalho, nesse período. Entre os 1.486 técnicos, esse índice ficou em 53%.

O estudo também contou com a participação de 1.634 estudantes de pós-graduação. Desses, 72,3% relataram ter passado por algum problema de saúde mental em 2021.

O levantamento ficou disponível entre os meses de outubro e novembro, para que a comunidade acadêmica pudesse responder questões relacionadas a estudo e aprendizagem no ensino remoto, uso de tecnologias, saúde e retomada das atividades presenciais.

Afeto e reinvenção

Para driblar a ansiedade e a solidão durante a pandemia, Prisley Zuse se rodeou do carinho da família e de apoio psicológico — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução
Para driblar a ansiedade e a solidão durante a pandemia, Prisley Zuse se rodeou do carinho da família e de apoio psicológico — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

A ansiedade faz parte da vida de Prisley Zuse desde o ensino médio. Porém, segundo a estudante de jornalismo, as incertezas da pandemia, somadas a mudanças na vida pessoal no ano de 2021, contribuíram para que “gatilhos emocionais” ficassem mais sensíveis nesse período. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Primeiro, foi a Covid-19, no fim do ano passado, e todo o medo e a insegurança que contrair a doença traz. Depois, foi a estranheza e a solidão de se acostumar a morar distante da família, em um momento da crise sanitária em que os encontros e os abraços dos amigos ainda não eram possíveis.

“Meus pais se mudaram para o Rio Grande do Sul, e foi a primeira vez que morei sozinha, longe deles”,

conta.

Mesmo com empenho, em certo momento, equilibrar as demandas da faculdade e do trabalho se tornou ainda mais difícil, e o pedido de demissão do estágio, inevitável.

“Meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] foi particularmente difícil, porque você lida com a pressão de estar finalizando um curso, e é uma pressão que vem de todos os lados, inclusive, de você mesmo”, explica. “Então, precisei sair do emprego para priorizar meu projeto”, afirma.

Prisley e família — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução
Prisley e família — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Apesar das dificuldades do ensino remoto, graças a ele, a estudante pôde voltar para o Sul e permanecer perto da família, na reta final da graduação. “Isso me permitiu ficar mais tempo com meus pais, o que foi fundamental”, considera Prisley.

“Para que eu conseguisse atravessar este ano razoavelmente bem, não teve outro jeito. Foi colo de pai e mãe, carinho da família e amigos, muito diálogo e, principalmente, terapia”,

revela a estudante.

‘Precisei parar para cuidar de mim’

Em agosto do ano passado, Ana Rossi, professora do Instituto de Letras da UnB, passou por um desafiante episódio de estafa, um quadro de saúde caracterizado pela sensação constante de esgotamento físico e mental, falta de energia e motivação.

“A chegada da pandemia abriu um flanco inesperado, pois alterou a rotina e os vínculos, enclausurou o mundo inteiro, e colocou-nos diante de uma máquina, o computador, horas a fio”, reflete. “Não sentia vontade de fazer nada – e essa não sou eu. Não conseguia focar, me concentrar, nem me organizar. Foram esses elementos que me levaram a compreender o meu estado e a dar um nome: estava estafada”, diz.

“A estafa impactou fortemente a minha rotina diária. Meu corpo simplesmente parou”,

conta a professora.
Ana Rossi, professora do Instituto de Letras da UnB, precisou desacelerar e cuidar da saúde mental, depois de um episódio de estafa, durante a pandemia  — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução
Ana Rossi, professora do Instituto de Letras da UnB, precisou desacelerar e cuidar da saúde mental, depois de um episódio de estafa, durante a pandemia — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Como se já não bastassem a fadiga generalizada, a tristeza e a dispersão, em um momento de excesso de trabalho e tarefas, a escritora conta que precisou, ainda, lidar com a culpa de não estar sendo suficientemente produtiva.

“Sou uma pessoa que ama trabalhar. Então, na minha cabeça, caso não cumprisse as tarefas que tinha que fazer, isso não estava certo, isso era culpa minha”, diz.

Foi necessário desacelerar, tirar licença do trabalho e pôr as coisas no lugar. “Precisei parar para cuidar de mim, parar para ouvir o que meu corpo dizia. Foi fundamental acolher a dor e, com muito carinho e paciência, transformá-la, com o tempo, em algo positivo”, afirma.

Ana Rossi: 'Precisei parar para cuidar de mim; parar para ouvir o que meu corpo dizia' — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução
Ana Rossi: ‘Precisei parar para cuidar de mim; parar para ouvir o que meu corpo dizia’ — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Na época da retomada das aulas, ainda em formato remoto, informar aos alunos sobre o problema pelo qual estava passando foi uma decisão certeira, na avaliação de Ana, pois fez com que os estudantes também se sentissem mais confortáveis para expor as dificuldades que estavam enfrentando.

“Acredito que isso abriu um espaço de diálogo com a turma. Os alunos me mostraram a fragilidade pela qual estavam passando. Alguns, à beira da depressão, outros, já estafados, com grande sofrimento mental, vivendo situações inimagináveis para mim”,

confessa.

De acordo com a professora, além de revelar a importância do autocuidado e de respeitar os limites do corpo, a estafa também a ensinou a ter uma escuta mais aberta e empática.

“No meu caso, a dureza da experiência da estafa abriu-me novos caminhos, além de uma capacidade aumentada para ouvir o outro. O que não é fácil nem simples, porque ouvir o outro significa acolher a própria dor”, define.

Mais de 90% da comunidade acadêmica está imunizada

Universidade de Brasília (UnB), campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte — Foto: Luiza Garonce/G1
Universidade de Brasília (UnB), campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte — Foto: Luiza Garonce/G1

Entre os principais resultados, a Pesquisa Social do Ccar também identificou que uma média de 92% da comunidade acadêmica que respondeu ao questionário está completamente vacinada contra a Covid-19.

A maior proporção está entre os docentes, com 97,2% vacinados – sendo que 8,4% já tomaram a terceira dose –, seguidos da pós-graduação, com 94% dos estudantes com o esquema vacinal completo.

Entre os técnicos administrativos, 91,7% já tomaram duas doses ou a dose única da vacina. Entre os alunos da graduação, o índice de imunizados é de 87%.

“Com os dados, a Universidade pode ter um olhar mais próximo da realidade, especialmente neste momento de volta gradual e segura à presencialidade. Sabemos que esse é um número dinâmico e possivelmente estamos perto de ter a nossa comunidade completamente vacinada”,

avalia o vice-reitor Enrique Huelva, presidente do Ccar.

Retomada gradual das aulas presenciais

Aula em anfiteatro da Universidade de Brasília (UnB) — Foto: Isa Lima/UnB
Aula em anfiteatro da Universidade de Brasília (UnB) — Foto: Isa Lima/UnB

Com a comunidade acadêmica majoritariamente vacinada, o próximo semestre letivo da UnB, previsto pra começar em 17 de janeiro, deve contar com mais de mil disciplinas presenciais que não puderam ser realizadas durante a pandemia, ou foram muito prejudicadas no ensino remoto, como as aulas práticas.

As unidades acadêmicas são responsáveis pela regulamentação interna do retorno. A orientação é que sejam seguidos o Plano Geral de Retomada das Atividades, o Guia de Biossegurança, os planos de contingência e as legislações distrital e federal, além das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A apresentação do passaporte da vacina contra a Covid-19 será obrigatória para acessar a Biblioteca Central (BCE) e o Restaurante Universitário (RU) do campus Darcy Ribeiro, podendo se estender a outros espaços da universidade.

Saúde mental na UnB

A Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu) oferece atividades gratuitas de promoção à saúde a alunos e funcionários, como serviços de apoio psicológico online, atendimento psicológico e psicossocial em grupo ou individual, ações preventivas e terapia comunitária.

Também há iniciativas voltadas a enfrentar traumas, como as que oferecem cuidado a familiares enlutados. No site da diretoria, é possível conferir mais detalhes sobre os serviços disponíveis.

Alem da Dasu, outros setores da Universidade de Brasília ofertam suporte e cuidado à saúde mental da comunidade. A Diretoria da Diversidade (DIV), por exemplo, acolhe pessoas LGBTQIA+ e públicos específicos como negros, mulheres e indígenas da UnB.

O Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep) da UnB oferece, ainda, psicoterapia para o público em geral, em diversas faixas etárias, incluindo crianças e adolescentes. O acolhimento é gratuito.

Fonte: Richard Assis, g1 DF

Em destaque