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Metrô DF: 5ª greve em 7 anos. Luta por direitos ou Extorsão?

26 de abril, 2021
8 minuto(s) de leitura
Metrô em Brasília
Metrô DF, estação Ceilândia. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasilia

Metrô DF passa pela 5ª greve em 7 anos. Com super salários que chegam a R$ 20 mil reais por mês, a remuneração média dos funcionários do metrô – DF é 4 vezes maior que a renda média do brasiliense. Além disso o prejuízo anual da empresa ultrapassa R$ 230 milhões. O prejuízo diário é de R$ 4,29 por usuário.

Nesta reportagem especial, entenda os motivos da atual greve, o histórico das últimas paralizações, as distorções entre remuneração e escolaridade, a comparação com outros estados e a expectativa com o futuro do Metrô DF.

Greve em andamento


Funcionários da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal paralisam serviço reivindicando aumento de remuneração e benefícios. Desde segunda-feira (19), uma nova greve dos metroviários persiste na capital do País.

O sindicado da categoria, SindMetrô/DF acatou decisão judicial do Tribunal Superior do Trabalho (TST) de elevar funcionamento da frota para 80% nos horários de maior circulação de pessoas. Porém, o sindicato continua limitando o serviço em até 60% nos outros horários.

Passageiros embarcam no metrô, na estação Ceilândia Centro
Passageiros embarcam no metrô, na estação Ceilândia Centro. Fonte: TV Globo/Reprodução

O protesto dos funcionários do Metrô é contra o corte do auxílio-alimentação, de R$ 1,2 mil. Além disso, os servidores citam “descumprimentos judiciais, como os descontos ilegais da greve de 2019 que, até hoje, não foram devolvidos”.

Vale ressaltar que os “descontos ilegais” citados pelo SindMetrô/DF foram autorizados pela justiça durante paralisação da categoria em julho de 2019. Com duração de mais de 70 dias e prejuízo estimado pela empresa em R$ 8,8 milhões, o GDF foi autorizado pela justiça a descontar os dias de paralisação da remuneração dos servidores.

Luta por direitos ou Extorsão?

Funcionários do Metrô DF ganham cerca de quatro vezes mais que a média da população do Distrito Federal. Veja abaixo o histórico de paralisações desde 2015:

03/11/2015

2015


Durante 10 dias mais de 65% dos funcionários do Metrô-DF cruzaram os braços reivindicando aumento salarial de 9% e contratação de mais profissionais.

03/11/2015

14/06/2016

2016


Paralisação dos metroviários inicia com reivindicações pela convocação dos aprovados em concurso em 2014 e reposição da inflação anual na data-base (pouco mais de 9%). 

14/06/2016

20/11/2017

2017


Os funcionários pediram reajuste salarial de 8,4% e a contratação de 631 pessoas aprovadas em concurso, sendo 331 de forma imediata e 300 como cadastro reserva.

20/11/2017

15/04/2018

2018


Metroviários ameaçam mas decidem não entrar em greve. Os funcionários aceitaram as propostas da Companhia Metropolitana do DF (Metrô) em assembleia. A categoria recebeu um aumento de 13% no auxílio-alimentação.

15/04/2018

18/07/2019

2019


Greve dura 77 dias e causa prejuízo de R$ 8,8 milhões ao Metrô-DF. Reivindicações: reajuste dos salários no mesmo índice que a inflação; aumento no valor de auxílio alimentação; ressarcimento do plano de saúde e incorporação da carga horária de seis horas ao contrato de trabalho dos pilotos.

18/07/2019

03/2020

Pandemia


Coronavírus atinge os 5 continentes

03/2020

14/04/2020

2020


O consórcio Urbi Mobilidade Urbana/Companhia do Metropolitano de São Paulo, formada pelo Metrô de São Paulo, ganha seleção para elaborar projeto de concessão do Metrô do DF à iniciativa privada. Os pontos mais importantes mostrados pelo estudo são melhorias nos trens e estações, aquisição de novos trens, integração com sistema de ônibus e redução do intervalo nos horários de pico em cerca de 40%.

14/04/2020

19/04/2021

2021


Pela 5ª vez em 7 anos, funcionários do Metrô-DF cruzam os braços em protesto contra diminuição do auxílio-alimentação. Benefício pode chegar até R$ 1,2 por mês.

19/04/2021

Metrô DF: Remuneração e Escolaridade

Um levantamento realizado pelo portal Cidade Toda sobre os dados de remuneração (2015 a 2020) e escolaridade (2017) dos funcionários do Metrô DF, demonstrou que pelo 7 em cada 10 colaboradores recebem em média R$ 8,5 mil por mês, entre salários e benefícios.

Os agentes de estação, pilotos, agentes de segurança operacional e profissionais de suporte representam a maior parte da categoria. Apesar da remuneração média desses profissionais ser quase três vezes maior que a renda média do brasiliense, 4 entre cada 10 possuem apenas o ensino médio completo.

Comparação com outros estados


Nós comparamos a remuneração inicial dos principais cargos do Metrô DF com o Metrô de São Paulo durante o mês de fevereiro/2021. Enquanto em São Paulo, 4 entre cada 10 funcionários recebem mais de R$ 6 mil por mês, no DF são 7 entre cada 10.

Comparação da média salarial dos funcionários do Metrô DF e SP
Comparação da média salarial dos funcionários do Metrô DF e SP. Fonte: Portais de Transparência do GDF e do Governo de São Paulo

Metrô DF

10 % dos colaboradores Salário > R$ 6 mil por mês 0 usuários/colab./dia 1.225 colaboradores para 150 mil usuários/dia 0 colab./trem 32 trens / 148 carros (38 colab./veiculos e 8 colab./carros) R$ 0 (passagem única) Renda média por capita da população: R$ 2.475 (495 passagens por mês)

Prejuízo diário

– R$ 0 usuário/dia Déficit diário por usuário do sistema. Arrecadação (2019): R$ 167 milhões. Despesas (2019): R$ 399 milhões. Déficit anual: – R$ 232 milhões (- R$ 4,29 / usuário todos os dias)

Metrô SP

10 % dos colaboradores Salário > R$ 6 mil por mês 0 usuários/colab./dia 7.166 colaboradores para 4 milhões usuários/dia 0 colab./trem 232 trens / 1.419 carros (31 colab./veiculos e 5 colab./carros) R$ 0 (passagem única) Renda média per capita da população: R$ 3.443 (782 passagens por mês)

Prejuízo diário

– R$ 0 usuário/dia Déficit diário por usuário do sistema. Arrecadação (2019): R$ 2,02 bilhões. Despesas (2019): R$ 3,4 bilhões. Déficit anual: – R$ 1,38 bilhões (- R$ 0,95 / usuário todos os dias)

O futuro do Metrô no DF

Em dezembro de 2020, o secretário de Mobilidade, Valter Casimiro, concedeu entrevista à Agência Brasília e fez um balanço de como está o processo de concessão do sistema metroviário. Segundo ele, o subsídio atual do governo para manter os serviços chega a R$ 300 milhões por ano. O que pode ser reduzido a R$ 170 milhões anuais.

Valter Casimiro afirma que o governo vai poupar R$ 130 mi por ano com serviços melhores, ao passar a operação metroviária para a iniciativa privada.
Valter Casimiro afirma que o governo vai poupar R$ 130 mi por ano com serviços melhores, ao passar a operação metroviária para a iniciativa privada. Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

“Além disso, nossa expectativa é que o número de trens seja dobrado, indo pra 40, carros modernos e com ar condicionado. Vamos aumentar a capacidade, diminuir o tempo entre um trem e outro e teremos um sistema de segurança mais eficiente”

Valter Casimiro, secretário de Mobilidade – GDF Tweet

Leia a entrevista completa em Agência Brasília

Posição do SindMetrô/DF

Realizamos hoje (26) uma entrevista com Meiry Rodrigues, Diretora de Comunicação e Mobilização do SindMetrô/DF. Fizemos cinco perguntas sobre a greve e também sobre o histórico de paralisações, remuneração dos trabalhadores e concessão do Metrô DF à iniciativa privada:

  • 1. Quais são as reinvindicações do Sindimetro/DF na atual greve?

    A nossa pauta se resume na assinatura do acordo coletivo com todos os direitos que
    nós já temos. Este acordo foi feito na última greve e agora nós estamos lutando para
    que ele seja mantido. Nós já estamos sem o auxílio-alimentação e eles também querem retirar o plano de saúde, a quebra de caixa (que é um valor voltado para os
    profissionais que trabalham nas bilheterias) e o abono especial.

    A empresa também quer retirar a nossa previdência privada. É um acordo que já
    estava estabelecido, mas que estão dando para trás.

  • 2. Como a categoria vê os esforços do GDF para essas reinvindicações?

    Nós avaliamos tanto a empresa, quanto o GDF, atuando com um descaso tremendo.
    Nós queremos só manter nossos direitos e eles se recusam. Isso é uma forma de
    penalizar a população que precisa do transporte e também os empregados que
    trabalham e merecem direitos. Antes de iniciar a greve, tivemos vários adiamentos do GDF e da empresa para resolverem a situação. Eles sempre entram com medidas
    paliativas, medidas judiciais. E não resolvem de fato a situação. Sempre tentam pedir a suspensão da greve.

  • 3. Nos últimos 7 anos, a categoria passou por 5 greves, 2015, 2016, 2017, 2019 e 2021. Qual a avaliação do SindMetro/DF sobre esse histórico?

    A empresa sempre tem uma postura de não negociar nossas demandas. Exemplo:
    CAESB fechou acordo coletivo, teve um certo aumento, é um movimento legítimo. Só
    que com os metroviários a gente não percebe uma atenção como deveríamos. Não
    tem uma negociação, não tem uma oferta. Talvez o objetivo seja desmoralizar os
    metroviários. Os pedidos são mínimos. Renovar os acordos coletivos, sem reduzir
    nada. Da última vez o TRT pensou até em incluir um índice de correção que nós
    temos direitos, mas não avançamos nisto, porque nosso foco é justamente preservar o
    que já temos.

  • 4. A categoria considera que a atual remuneração dos funcionários do Metrô do DF está compatível com o praticado em outros estados, como no Metrô de São Paulo, por exemplo?

    A nossa remuneração já está defasada, tem vários anos sem aumento, sem INPC
    (que afeta a vida do trabalhador). Desde 2014 sem ajuste no salário. Em 2015 teve um aumento judicial, que até hoje não foi aplicado.

  • 5. O GDF tem planos para concessão do Metrô para a iniciativa privada. Qual a posição do sindicato sobre isso?

    O sindicato acha um absurdo a possibilidade de privatização. O serviço atende bem à população, tem uma avaliação positiva dos usuários. Privatizar vai onerar muito mais o estado. O déficit do metrô existe em qualquer localidade que tem o serviço, mas o lucro do transporte é a facilidade ofertada para a população. O lucro é um lucro social e não financeiro. Se o GDF privatizar o metrô, a empresa que tomar conta vai visar somente o lucro. No caso dos ônibus, onde já existe a privatização, a gente percebe que a população fica sem atendimento. Ainda mais nesses tempos de pandemia.

    Privatizar é um gasto que será absurdo. Os contratos de empresas privatizadas são milionários e sempre que há uma questão de infraestrutura os valores são repassados ao governo. O metrô público gasta muito menos do que privado. É uma falácia acreditar o contrário.

“Importante salientar: a empresa até hoje não cumpriu a decisão da última greve. O processo está até na justiça por isso. Sobre a postura do GDF com relação ao Metrô na pandemia, os funcionários não estão inseridos na prioridade da vacina da covid-19. A passagem hoje está em 5,50. Inclusive aumentar o preço da passagem já é sinal de privatização.”

Meiry Rodrigues, Diretora de Comunicação e Mobilização do SindMetrô/DF Tweet
Metrô DF
Metrô DF. Foto: Tony Winston/Agência Brasília.

Nota técnica: todos os números apontados nessa matéria foram obtido através da lei de acesso à informação e de dados públicos já disponíveis nos sites governamentais.

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