Ever Given tinha voltado a flutuar parcialmente na madrugada. Administradora do Canal de Suez diz que navegação será retomada após reposicionamento do cargueiro
O meganavio que encalhou e bloqueou o Canal de Suez por seis dias voltou a navegar por volta das 10h30 desta segunda-feira (29) na principal ligação marítima entre a Ásia e a Europa, por onde passam cerca de 12% de todo o comércio global.
Mais cedo, a Autoridade do Canal de Suez (SCA, na sigla em inglês) afirmou também que “a navegação será retomada imediatamente após a restauração completa da direção da embarcação” e que o Ever Given será encaminhado à área de espera de Bitter Lakes “para inspeção técnica”.
O responsável pela administração do canal afirmou a uma TV egípcia que o navio de contêineres não sofreu danos e o canal está navegável, segundo a agência de notícias Reuters.
Com 400 metros de comprimento e 220 mil toneladas, o meganavio operado pela empresa Evergreen encalhou no km 151 do canal na terça (23), em meio a ventos fortes e uma tempestade de areia, e bloqueou a passagem de todos os outros navios.
Empresas especializadas em comércio marítimo estimam que as perdas econômicas direta ou indiretamente ligadas ao encalhe passam de R$ 300 bilhões, segundo a BBC. Há mais de 400 embarcações na fila à espera da liberação do canal.
Segundo o presidente da SCA, Osama Rabie, serão necessários três dias e meio para que todos os navios na fila de espera consigam atravessar o canal após a sua liberação.
A Maersk, maior empresa de transporte de contêineres do mundo, aposta em um prazo maior. “Avaliando o acúmulo atual de navios, pode levar seis dias ou mais para que toda a fila passe”, disse a empresa em um comunicado.
Ela tem três embarcações presas no canal e 29 aguardando para entrar, além de 15 que já foram redirecionadas para dar a volta pelo sul da África (veja mais abaixo).
Operação de desencalhe
A SCA anunciou mais cedo que havia conseguido empurrar a popa do Ever Given de 4 metros da margem do canal para 102 metros após “manobras de empurrar e de reboque bem-sucedidas que levaram à restauração de 80% da direção da embarcação”.
A administradora do canal também afirmou que ia aproveitar a maré alta para terminar as manobras, “permitindo a restauração total da direção da embarcação para que ela seja posicionada no meio da hidrovia navegável”.
Nick Sloane, o mestre em salvamento responsável por desvirar o Costa Concordia, navio de cruzeiro que afundou na costa da Itália em 2012, havia dito na quinta (25) que a melhor chance para fazer o navio flutuar seria no domingo (28) ou hoje.
Isso porque a maré de primavera aumentaria profundidade ao canal, segundo a Bloomberg, quando chegasse ao pico, permitindo mais manobras.
Por que o Canal de Suez é tão importante?
O Canal de Suez foi inaugurado em 1869, para ligar o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, e é uma das rotas de navio mais utilizadas do mundo, com capacidade para receber navios gigantes de até 240 mil toneladas.
Cerca de 12% do comércio global passa pelo canal de 193 km no Egito que fornece a ligação marítima mais curta entre a Ásia e a Europa.
A alternativa é dar a volta em toda a África, pelo Cabo de Boa Esperança, o que faz o trajeto entre os portos do Golfo e de Londres ter o dobro de distância e adiciona de uma a duas semanas à viagem.
Cerca de 50 navios passaram por dia no canal em 2019, o que representa quase um terço do tráfego mundial de navios de contêineres, e a rota concentra grande parte do petróleo transportado por mar.
As taxas de embarque para os navios petroleiros quase dobraram depois que o Ever Given encalhou, e o bloqueio interrompeu as cadeias globais de abastecimento.
Segundo a Bloomberg, cerca de US$ 9,6 bilhões em tráfego marítimo diário foram interrompidos pelo navio que encalhou (mais de R$ 50 bilhões).
O número é baseado em uma estimativa da Lloyd’s List, que aponta cerca de US$ 5,1 bilhões em mercadorias passam pelo canal por dia no sentido oeste (Europa) e aproximadamente US$ 4,5 bilhões no sentido leste (Ásia).
Fonte: Por Reuters, G1