O mês de outubro marca o Outubro Laranja, uma campanha dedicada à conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O principal objetivo da iniciativa é educar a sociedade sobre o transtorno, combater o estigma associado e incentivar o diagnóstico precoce, além de promover o tratamento adequado para aqueles que convivem com o TDAH, sejam crianças ou adultos.
Segundo o Ministério da Saúde, o TDAH afeta cerca de 7,6% das crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, 5,2% dos jovens e adultos entre 18 e 44 anos, e 6,1% das pessoas acima de 44 anos. Esses números refletem aproximadamente 11 milhões de brasileiros diagnosticados com o transtorno. A nível mundial, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) aponta que a prevalência varia entre 5% e 8%.
A médica psiquiatra Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), explica que o TDAH é caracterizado por três principais sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. “O transtorno afeta o planejamento, o controle de impulsos, o foco e a regulação emocional, impactando significativamente a vida de quem o tem”, afirma Renata.
Ela ressalta que a conscientização trazida pelo Outubro Laranja é fundamental para que a sociedade entenda a importância de buscar um diagnóstico médico adequado. “Nos últimos anos, observamos um aumento nos diagnósticos de TDAH, reflexo da maior conscientização. No entanto, também cresceu o número de autodiagnósticos e tratamentos baseados em informações superficiais”, alerta a especialista.
Um transtorno além da infância
Embora o TDAH seja comumente identificado a partir dos seis anos de idade, muitas pessoas só percebem os efeitos do transtorno na vida adulta. “Enquanto crianças manifestam inquietação e dificuldade em seguir instruções, adolescentes e adultos costumam enfrentar problemas com procrastinação, desatenção e gerenciamento de tempo”, explica Renata.
O transtorno pode ser classificado em três subtipos: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo ou combinado, com sintomas de ambos os tipos. Além disso, muitas vezes o TDAH está associado a comorbidades, como ansiedade e depressão, o que torna o diagnóstico e o tratamento mais complexos.
A importância do diagnóstico precoce
Renata Figueiredo enfatiza que o diagnóstico precoce é essencial para que a pessoa receba as intervenções adequadas desde cedo, evitando problemas como baixo desempenho escolar e baixa autoestima. “Identificar o TDAH rapidamente permite que pais, educadores e a própria pessoa compreendam melhor a condição, promovendo um ambiente mais acolhedor e evitando punições desnecessárias”, reforça.
O tratamento, segundo a psiquiatra, geralmente é multimodal, combinando terapia comportamental, medicação, psicoeducação e estratégias educacionais. Ela também adverte sobre os riscos do autodiagnóstico, que, muitas vezes, leva a confusões entre os sintomas do TDAH e outras condições, como ansiedade e depressão. “Isso pode resultar em tratamentos inadequados e no uso incorreto de medicamentos”, afirma.
A necessidade de políticas públicas
Além da conscientização promovida pelo Outubro Laranja, a especialista defende a criação de políticas públicas voltadas para o diagnóstico e tratamento do TDAH. Renata destaca a importância de capacitar profissionais de saúde e educadores, além de garantir a disponibilização de medicação e terapias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para assegurar que todos tenham acesso ao tratamento necessário, independentemente da condição financeira.
A campanha Outubro Laranja surge, assim, como uma ferramenta importante para promover mais informação e acesso ao tratamento do TDAH, reforçando a necessidade de empatia e compreensão sobre o transtorno que impacta milhões de brasileiros.