Na zona oeste da capital fluminense, o incêndio de veículos de transporte público é apenas um sintoma de problemas mais amplos. No começo da semana, 35 ônibus e um trem foram incendiados devido a conflitos com uma das maiores milícias do estado.
Para os moradores locais, os desafios diários incluem preços elevados para necessidades básicas, como água e gás, e a falta de opção em serviços como internet ou TV à cabo devido ao controle miliciano.
O alcance da milícia vai além do controle econômico. Mesmo a liberdade de comprar e transportar itens entre bairros pode ser limitada por esses grupos armados. Essa restrição tem consequências significativas, criando um ambiente de medo silencioso entre a população.
Morte do número 2
A escalada de violência na queima de veículos ocorreu após a morte, pelas forças de segurança, de Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão e considerado o “número 2” da liderança do grupo.
A ação, vista como a mais grave contra a frota de transportes em um único dia, evidenciou o domínio crescente das milícias no Rio de Janeiro. Em evento em Brasília, o presidente Lula inclusive chegou a comparar o Rio com a Faixa de Gaza.
Atualmente, cerca de 20% da região metropolitana do Rio está sob influência de grupos armados. As milícias, de acordo com o Mapa dos Grupos Armados, controlam metade dessas áreas. Em 16 anos, o domínio miliciano cresceu 387%.
O que são as milícias
As milícias são compostas por servidores públicos e civis do setor de segurança. Esses grupos, que surgiram dos grupos de extermínio dos anos 1990, têm conexões complexas e parcerias com facções de tráfico. Possuem origens dentro do estado, detendo proteção e influência nas forças de segurança e na esfera política.
A expansão miliciana na região metropolitana do Rio tem aumentado. A violência e a tensão são persistentes, e comerciantes locais são frequentemente obrigados a fechar seus negócios. Os moradores também são cobrados por taxas de “segurança”, um pagamento que mais os protege das ameaças milicianas do que de perigos externos.
O Instituto Fogo Cruzado registrou um aumento de 127% nas mortes a tiros na zona oeste em 2023 em comparação com 2022. Tiroteios e chacinas também estão em ascensão, complicando ainda mais a situação.
Carlos Nhanga, coordenador do Instituto Fogo Cruzado, salienta que a conexão entre milícia e estado dificulta o combate eficaz a esses grupos. Por outro lado, após os recentes ataques, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, intensificou as medidas de segurança.
Especialistas defendem abordagens mais holísticas para lidar com o crime organizado, em vez de focar apenas em líderes milicianos. A integração da comunidade e a reconfiguração das estratégias de segurança são vitais, assim como a promoção de atividades culturais e econômicas para desviar os jovens do alcance das milícias.